Nduduzo Makhathini e os seus antepassados chegaram à Blue Note
Parece mentira, mas não é: aos 37 anos, o pianista criado numa aldeia montanhosa um dia habitada pela nobreza zulu e orgulhosamente parte de uma linhagem de excelência do jazz mundial ainda hoje mal-conhecida, é o primeiro músico sul-africano de jazz a assinar pela histórica Blue Note. Mas não está sozinho: os seus antepassados, de sangue e de som, também vão fazer companhia a John Coltrane, Wayne Shorter ou Art Blakey.
Em 1991, de passagem por Portugal para apresentar Nouvelle Vague (1990), Jean-Luc Godard dizia do cinema que ele era “ocidental”. A razão? “A civilização ocidental, em primeiro lugar, acredita no que vê”. Uma afirmação aparentemente triunfal, que escondia, afinal, uma assunção das limitações do olhar (ou das “vistas curtas”) e da própria da cultura ocidental — que, em tudo, precisa de “ver para crer”. Por aí ficando vedado, pois, qualquer conceito ou extrapolação não imediata e tangivelmente comprovável: o que os olhos não testemunham, não existe. Talvez que, Godard, autor de For Ever Mozart (1997), não dissesse o mesmo da música, cujo sentido primordial não aufere da mesma dignidade nas lides probatórias deste mundo (mas o ponto é esse, a hipótese de “mundo” não ser apenas o que conhecemos): quantos acreditarão, de facto, no poder curativo [“healing”] ou espiritual, mediúnico, da música?
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