Putin falou com líderes europeus sobre Bielorrússia e ouviu pedidos de diálogo

Angela Merkel, Emmanuel Macron e Charles Michel reforçaram a importância do diálogo para ultrapassar crise na Bielorrússia. Lukashenko distribuiu medalhas pelas forças de segurança e anunciou o envio de forças militares para as fronteiras a Ocidente.

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Manifestação numa fábrica de tractores em Minsk ,Manifestação numa fábrica de tractores em Minsk TATIANA ZENKOVICH/EPA,TATIANA ZENKOVICH/EPA
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"Quer-se: vivo ou morto", dizem estes cartazes empunhados por manifestantes LUSA/TATIANA ZENKOVICH
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Protesto junto à prisão onde Sergei Tikhanovski está detido LUSA/TATIANA ZENKOVICH

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, falou esta terça-feira ao telefone com alguns líderes europeus, incluindo o seu homólogo francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, tendo afirmado que uma intervenção externa na Bielorrússia seria “inaceitável”. Do outro lado da linha, ouviu a exigência europeia de que Aleksander Lukashenko deve pôr fim à violência e iniciar um diálogo com a oposição.

 “A Rússia reiterou que as tentativas estrangeiras de interferir nos assuntos internos da Bielorrússia eram inaceitáveis e podem levar a uma escalada da tensão”, afirmou o Kremlin num comunicado citado pela agência TASS.

Já a chanceler alemã “sublinhou que o Governo bielorrusso deve renunciar à violência contra manifestantes pacíficos, libertar de imediato todos os presos políticos e iniciar um diálogo nacional com a oposição e a sociedade para superar a crise”. No mesmo sentido, o Presidente francês chamou a atenção para a necessidade de diálogo, segundo a Reuters.

Depois de falar com os líderes europeus, diz a agência Belta, Putin ligou a Lukashenko a dar conta das conversações com Merkel e Macron. Pouco depois, o Presidente bielorrusso anunciou o envio de unidades militares para as suas fronteiras a Ocidente, em resposta a “comunicados de países Ocidentais” à situação interna, apesar de não ter especificado quais.

Lukashenko referiu-se ainda ao “conselho de coordenação” criado pela oposição, acusando-o de tentar “tomar o poder” e prometeu tomar medidas contra os seus membros.

Na segunda-feira, a candidata às presidenciais Svetlana Tikhanouskaia garantiu estar pronta a assumir o poder forma interina, para convocar novas eleições livres e justas e, para tal, anunciou a criação de um conselho com várias figuras da sociedade bielorrussa.

Segundo declarações de Olga Kovalkova, porta-voz de Tikhanouskaia, à TASS, fazem parte deste conselho figuras como a Nobel da Literatura Svetlana Alexievich, o realizador Yuri Khashchevatsky e Maria Kolesnikova, gestora da campanha de Viktor Babariko, um dos opositores de Lukashenko que foi impedido de concorrer às presidenciais.

Protestos continuam 

Na véspera de uma reunião de emergência do Conselho Europeu, Charles Michel revelou no Twitter que também conversou com o Presidente russo na manhã desta terça-feira e sublinhou que “apenas um diálogo pacífico e verdadeiramente inclusivo pode resolver a crise na Bielorrússia”. De acordo com fonte europeia ouvida pela Reuters, Michel e Putin “discutiram sobre a melhor forma de encorajar o diálogo para um desfecho pacífico para a crise”, incluindo a possibilidade da retoma das actividades da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) no país.

Os líderes dos 27 Estados-membros reúnem-se na quarta-feira, por videoconferência, e, segundo fontes europeias, pretendem enviar uma mensagem clara de solidariedade ao povo bielorrusso, defendendo que as eleições de 9 de Agosto não foram livres nem justas e que a violência exercida pelas autoridades contra manifestantes pacíficos não pode ser tolerada.

Em cima da mesa, além das sanções que já reuniram consenso junto dos Ministros dos Negócios Estrangeiros europeus, estarão mecanismos para ajudar a sociedade civil bielorrussa. Entretanto, a Lituânia adiantou-se e aprovou sanções económicas à Bielorrússia.

Em Minsk, depois de ter sido vaiado na segunda-feira e ouvido gritos de “vai-te embora” numa fábrica, Lukashenko tentou, esta terça-feira, no dia em que a Bielorrússia entrou no décimo dia de protestos contra o regime, manter a lealdade das forças de segurança, um dos poucos sectores que ainda o apoia. Distribuiu medalhas a mais de 300 polícias e membros do KGB (sigla dos serviços secretos bielorrussos) pelo seu “serviço impecável”, numa altura em que o próprio Governo admite que alguns polícias estão a abandonar os postos de trabalho e a juntar-se aos manifestantes.

Com os protestos e as greves a continuarem, o Governo bielorrusso enviou também uma mensagem aos gestores das fábricas estatais, a exigir que garantam que os trabalhadores cumprem os seus deveres e não faltam ao trabalho. Caso contrário, devem ser punidos.

Nas ruas, centenas de manifestantes juntaram-se às portas de um teatro em solidariedade com o seu director, Pavel Latushko, que foi demitido depois de manifestar o seu apoio à oposição. O ministro da Cultura, que visitou o teatro, foi recebido com apupos e gritos de “vergonha”.

Depois, os protestos continuaram à frente da prisão na capital bielorrussa onde Sergei Tikhanovski, marido de Svetlana Tikhanouskaia, está detido desde Maio, o que o impediu de concorrer às eleições presidenciais, tendo sido substituído pela sua mulher, que agregou toda a oposição. Os manifestantes felicitaram o youtuber pelo seu aniversário, aplaudiram e exigiram a sua libertação.

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