Covid-19: Quase metade dos brasileiros acha que Bolsonaro não tem culpa nas mais de 100 mil mortes

Sondagem da Datafolha mostra que 47% dos inquridos não julga Bolsonaro como culpado, apesar dos mais de 106 mil mortos. O Brasil é o segundo país no mundo com mais infectados e tem mais de metade dos seis milhões de casos da América Latina e Caraíbas.

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O Presidente Jair Bolsonaro não tem ministro da Saúde desde Maio e tem sido muito criticado pela gestão da pandemia Reuters/Adriano Machado

Os brasileiros estão divididos sobre a responsabilidade do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, nas mais de 106 mil mortes por covid-19 no país. Uma sondagem da Datafolha diz que 47% dos inquiridos acreditam que o chefe de Estado não tem culpa nenhuma nas mortes e no facto de o Brasil ter mais de metade dos seis milhões de casos de coronavírus na América Latina e Caraíbas. 

A sondagem da Data Folha, divulgada pela Folha de São Paulo, revelou que o número de inquiridos que vêem o Governo de Bolsonaro como bom ou óptimo cresceu desde Junho, dos 32% para os 37%. Além disso, quem considerava que a sua governação má ou péssima também diminuiu, dos 44% para os 34%, o que representa um nível semelhante ao do início do seu mandato. E os que avaliam a sua gestão como normal também aumentou dos 23%, registados em Junho, para os 27%. 

Mas a divisão é mais profunda na sociedade brasileira. Quase metade dos brasileiros inquiridos (47%) entre 11 e 12 de Agosto respondeu que Bolsonaro não tem culpa nenhuma pelas mortes, contrastando com os 51% que consideram ter responsabilidade, dos quais 11% o vêem como principal culpado e 41% como um dos culpados, mas não o principal. 

O Brasil tem até este sábado mais de 3,2 milhões de casos confirmados e mais de 106 mil mortes, de acordo com a contagem da americana Universidade Johns Hopkins. O país tem mais de metade dos seis milhões de casos detectados na América Latina e nas Caraíbas, o que faz com que seja o segundo país mais atingido em todo o mundo, ficando apenas atrás dos Estados Unidos. 

“Os historiadores dirão, no futuro, que Jair Bolsonaro conduziu os brasileiros a um precipício mortal, com sua resposta vacilante, egoísta e anticientífica à pandemia de covid-19”, disse o antigo ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em entrevista exclusiva ao Guardian. A pasta da saúde está sem ministro desde que Nelson Teich se demitiu em meados de Maio e tem sido gerida interinamente por um militar especialista em logística, Eduardo Pazuello, algo que gerou críticas entre os especialistas em saúde pública. 

Bolsonaro tem desvalorizado a pandemia desde o início e recusa-se a impor medidas federais de distanciamento social, entre as quais o confinamento, ao privilegiar a economia. A propagação do coronavírus não tem parado no país e até o Presidente e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, contraíram a doença, sem que o chefe de Estado tenha alterado o seu “discurso negacionista”, escreve a edição brasileira do El País. A primeira-dama transmitiu o vírus à avó, que acabou por morrer. 

O executivo avançou com um plano de ajuda de emergência no valor de 600 reais (95 euros) a trabalhadores informais, desempregados e beneficiários da Bolsa Família que chegou a metade das famílias brasileiras em Junho. É o grande trunfo de Bolsonaro e tudo indica que lhe trouxe resultados: 42% dos inquiridos que consideram o Governo bom ou óptimo receberam este apoio. 

A gestão da pandemia por Bolsonaro já motivou cinco queixas contra o Presidente junto do Tribunal Penal Internacional, em Haia, nos Países Baixos. É acusado de genocídio, crimes contra a humanidade e omissão no controlo da pandemia. E na Câmara dos Deputados, já deram entrada 56 pedidos de impeachment

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