Centro hospitalar de Setúbal vai investigar morte de grávida quatro horas após o parto
Vânia Graúdo tinha 42 anos e a gravidez decorrera sem intercorrências, segundo a família. Parto começou a ser induzido no sábado mas o bebé, que está clinicamente estável, só nasceu na segunda-feira, às 13h55. A mãe acabaria por morrer cerca de quatro horas depois.
O Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) abriu um processo de averiguação para “o cabal esclarecimento” das circunstâncias que rodearam a morte de uma mulher de 42 anos, quatro horas depois do nascimento do seu bebé, na segunda-feira passada, no Hospital de São Bernardo. O filho de Vânia Graúdo nasceu às 13h55 e a mulher acabou por falecer às 18h15, aparentemente devido a uma embolia do líquido amniótico, segundo adianta esta quarta-feira o Diário de Notícias. Num curto comunicado enviado ao PÚBLICO, o CHS garante desde já que “a utente foi atendida de acordo com o estado da arte preconizado para a sua situação clínica”.
O parto de Vânia Graúdo tinha começado a ser induzido com administração medicamentosa no sábado ao final da tarde mas o bebé só nasceria segunda-feira, às 13h55. O hospital garante que, durante esse período, “a grávida e o bebé permaneceram monitorizados por CTG sem intercorrências”, até que ocorreu “um quadro convulsivo súbito”. A mãe acabaria por morrer cerca de quatro horas depois.
A mulher, já com duas filhas, teria, segundo a família, indicações de que o parto seria feito por cesariana e tencionava avançar com a laqueação de trompas para impedir futuras gravidezes. Segundo garantiu a sua irmã ao Diário de Notícias, Vânia não tinha qualquer problema de saúde. Na quarta-feira da semana passada, quando se deslocou ao hospital para fazer uma última ecografia, ter-lhe-á sido dito que os níveis de líquido amniótico estavam elevados – uma informação que a família diz não entender por que razão não foi valorizada quando se iniciou o parto.
A explicação dada pelos responsáveis do hospital à família apontava para a ocorrência de uma embolia de líquido amniótico após a ruptura da bolsa de águas, sendo que a morte terá ocorrido após paragem respiratória.
Ao PÚBLICO, um responsável pela secção regional do Sul da Ordem dos Médicos referiu não ter tido conhecimento dos factos ocorridos no hospital, só após o que aquele organismo decidirá se haverá ou não lugar a um processo de averiguações.
Em 2018 morreram 15 mulheres na sequência de complicações na gravidez, parto e puerpério (até 42 dias após o parto). No ano anterior, em 2017, tinham sido 11 e em 2016 foram 12.
Quando estes números foram divulgados, em Dezembro de 2019, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, identificou dois padrões associados à mortalidade materna: mulheres acima dos 35 anos e mulheres mais jovens com doenças graves já existentes.
No total das 26 mortes ocorridas em 2018 e 2017, e segundo explicou então Graça Freitas, “40% das mortes maternas foram em mulheres com mais de 35 anos”. “Estudos mostram que a partir daí há um risco aumentado. É um estado biofisiológico, mas que desencadeia uma série de factores a nível orgânico e fisiológico que podem levar à descompensação de algumas doenças e problemas de base”, referiu então a directora-geral da Saúde, precisando que estas mulheres “habitualmente levam a gravidez até ao termo e bastantes destes óbitos ocorrem já no puerpério”.
Quanto a doenças associadas à mortalidade materna, o relatório da DGS apontava “doenças hemorrágicas, tromboembólicas e hipertensivas mas também, nas que já tinham patologia de base, doença oncológica e doença pulmonar obstrutiva grave”.
Alguns destes casos de mortes maternas deram origem a processos judiciais, que estão em segredo de justiça.
No caso de Vânia Graúdo, e segundo o Diário de Notícias, a família decidiu aguardar pelo resultado da autópsia para decidir o que fazer.