Imagens do deserto
Na sua recusa do mundo, os santos anacoretas levam-nos a valorizar o silêncio e o recolhimento, quase sempre convenientes ao ócio intelectual. Já certas imagens de algumas eremitas, como Maria Madalena, assumem uma perturbante ambiguidade entre a penitência e erotismo. Esta é a última crónica desta série.
Se tivesse de eleger uma das melhores crónicas sobre pintura que João Bénard da Costa publicou neste jornal, destacaria “Patmos no Bornéu” (23 de Fevereiro de 2003), um texto que se ocupa, com erudição e elegância de estilo, de duas especialíssimas afinidades com preferências minhas: um arrebatado mas lúcido gosto pela escola de Ferrara do século XV, com pintores sofisticados e de difícil entendimento como Cosmè Tura (activo 1451-1495), Francesco del Cossa (activo 1456-1477) e Ercole de’ Roberti (activo 1469-1496), outrora muito detestados pelo seu “excesso e desenfreamento”; e, sobretudo, o prazer de verificar a coincidência de os nossos passos, os de Bénard e os meus, no Museu Thyssen em Madrid, nos levarem sempre diante de uma pequeníssima obra-prima (27 x 32 cm) pintada por Tura — o S. João Evangelista em Patmos (1).
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