Apoiar ideias e projectos para desenvolver o interior do país
A terceira edição do Programa PROMOVE – que visa a valorização das regiões do interior de Portugal - foi apresentado simbolicamente em Foz Côa, na cerimónia que assinalou os 10 anos do Museu e 25 anos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. As candidaturas já estão abertas.
Foz Côa, 1995: depois de divulgados os achados arqueológicos nas margens do rio Côa, o governo de António Guterres decide, numa decisão histórica, suspender a construção de uma barragem e preservar o património paleolítico com mais de 25.000 anos. As gravuras rupestres de Foz Côa são hoje símbolo de uma luta pela conservação da história da humanidade e valorização do interior de Portugal.
Passados 25 anos da “ousadia” do actual secretário-geral da ONU, celebram-se também 25 anos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) e uma década de Museu do Côa. A data, 30 de Julho, assinalou-se com uma homenagem a António Guterres, que esteve em Foz Côa para celebrar tudo o que representa Côa no que respeita ao casamento entre preservação do património e investigação científica.
As celebrações foram também marcadas pela apresentação da terceira edição do Programa PROMOVE, uma iniciativa do BPI e da Fundação “la Caixa”, em parceria com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), para a dinamização das regiões do interior de Portugal.
“O que as gravuras nos ensinaram, nos seus mais de 25.000 anos, é que o progresso demora”
As palavras são de Ana Abrunhosa, Ministra da Coesão Territorial e natural de Mêda, distrito da Guarda, a cerca de 20 quilómetros de Foz Côa. Ao elogiar “o modelo de desenvolvimento diferente” da região, fê-lo defendendo progresso e desenvolvimento de forma sustentável para os territórios do interior. Um caminho que é “tudo menos fácil” mas que torna possível equilíbrio e oportunidades para todos.
Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, recordou que “a ousadia” da decisão de Guterres quanto ao Vale do Côa foi complementada com “outras ousadias, entre elas criar um Ministério da Ciência em Portugal”. O que “mudou o cenário da cultura científica” do país. E não foi, portanto, “um acaso ou apenas uma coincidência” associar a criação do MCTES “aos 10 anos do Museu que hoje é também um Centro Ciência Viva”.
Nos 25 anos da Ciência em Portugal, “temos de aprender mais”, relembrou Manuel Heitor. É preciso fomentar uma cultura científica que “nos dê acesso aos melhores, que dê oportunidades aos jovens” de terem a “humildade de saberem que não sabemos nada.” É nessa base, que dá impulso à investigação, que o PROMOVE foi referido: “desenvolver actividades de investigação no interior do país” é essencial.
Promover o futuro do interior
Helena Pereira, presidente da FCT, começou por destacar a importância do desenvolvimento do conhecimento e, consequentemente, do desenvolvimento do país enquanto “esforço colectivo”. Um esforço que não é exclusivo do Ministério da Ciência e da actuação da Fundação mas que se deve, em grande parte, ao “desenvolvimento em conjunto com as instituições do sistema científico e tecnológico” e à “construção de conhecimento” através de sinergias. A parceria da FCT com a Fundação “la Caixa” em áreas como a investigação em saúde já tem alguns anos mas a aposta está agora na “valorização do conhecimento associado aos territórios interiores.”
Criar estruturas científicas fortes e sustentáveis é essencial na promoção do futuro do interior de Portugal. Coube a Artur Santos Silva, Curador da Fundação “la Caixa” e Presidente Honorário do BPI, apresentar a 3.ª edição do PROMOVE, começando por contextualizar o programa e destacando a “grande desigualdade entre o desenvolvimento do litoral e do interior”. A faixa de Chaves ao Baixo Alentejo poderia “beneficiar das relações fronteiriças” com políticas mais agressivas e mais iniciativa. Por essa razão, é o terceiro ano que a Fundação “la Caixa”, “a maior fundação da Europa continental”, aposta em Portugal. Nesta edição, a parceria com a FCT acrescentou “um multiplicador muito grande” à acção da Fundação “la Caixa”, refere Artur Santos Silva.
“O programa PROMOVE visa financiar projectos-piloto”, não são “grandes projectos que imediatamente se executam.” Numa breve entrevista, o curador da Fundação “la Caixa” compara a forma como se “testam” estes projectos com a própria investigação científica: “É preciso fazer várias tentativas para se chegar à verdade”, afirma Artur Santos Silva. O objectivo do PROMOVE é “fomentar projectos-piloto que valorizem fortemente os recursos naturais e históricos de uma região”, explicou. Ao mesmo tempo, criam-se “novos pólos de especialização”, para que se “combatam os riscos naturais que estão em cima da sua grande riqueza”, como o capital natural, a floresta e a agricultura. “A nossa grande ideia é que estes projectos-piloto, tendo sucesso, sejam replicados”, explica-nos. Converter ideias de estudantes em projectos sustentáveis foi o desafio acrescentado na edição anterior. Este ano, “o grande reforço é financiar investigação e inovação” que explorem, por exemplo, recursos termais, que apoiem novos produtos da agricultura, que “combatam pragas que pesem sobre a agricultura e a floresta” e que valorizem os parques e reservas naturais. O esforço financeiro inicial foi multiplicado por seis em apenas três anos. Citando declarações de António Guterres: “É um erro cortar na ciência e na cultura”, fundamentais “para o desenvolvimento e coesão social”.