Um novo Almodóvar, a curta A Voz Humana, acrescentado à programação de Veneza
É uma curta-metragem de 30 minutos que o cineasta espanhol descreve como “um festival Tilda Swinton”. A outra novidade fora de concurso é One Night in Miami, de Regina King.
A 77.ª edição do festival de Veneza acrescenta à sua programação, anunciada no dia 28, a curta-metragem A Voz Humana, adaptação da obra de Jean Cocteau por Pedro Almodóvar, e One Night in Miami, de Regina King (que recebeu o Óscar de Melhor Actriz Secundária por Se Esta Rua Falasse). Serão exibidos fora de concurso, entre 2 e 12 de Setembro.
O filme de Almodóvar, filmado e montado em tempo recorde, assim que o confinamento em Espanha foi levantado, é o seu primeiro trabalho em inglês e tem como intérprete Tilda Swinton, actriz que será, aliás, uma das personalidades distinguidas com um Leão de Ouro à carreira nesta edição. O que levou o realizador espanhol, que na edição do ano passado fora ele próprio distinguido com um Leão de Ouro à carreira (uma “coincidência excepcional”, diz o director da Mostra, Alberto Barbera), a descrever o filme como “um festival de Tilda, uma amostra dos seus infinitos e variados registos como actriz”: “Foi um espectáculo dirigi-la”.
É um filme de 30 minutos que adapta livremente a obra de Jean Cocteau sobre uma mulher desesperada que aguarda pelo telefonema do amante que a abandonou – uma adaptação com que, diz-se, Almodóvar vem sonhando há anos, mas que na verdade faz parte da consciência do seu cinema, tendo o texto até sido citado em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos.
“Estou muito excitado por regressar a Veneza num ano especial, com a covid-19 como convidada involuntária. Tudo será diferente e estou ansioso por descobrir isso pessoalmente.” Ou seja, Almodóvar irá ao Lido, numa edição do mais antigo festival de cinema do mundo que se realiza em plena pandemia e que vai experimentar como é que isso se faz: como se recebem jornalistas do mundo inteiro e se respeitam as medidas de distanciamento social.
Sobre One Night in Miami, primeira realização de Regina King, adaptação da peça de Kemp Powers, ficcionando um encontro, no Sul segregacionista, entre um jovem Cassius Clay , que acaba de ganhar o título mundial na categoria de Pesados, o activista Malcolm X, o cantor Sam Cooke e a estrela de futebol Jim Brown, Alberto Barbera declarou que o filme não podia estar mais sintonizado com “os acontecimentos dos meses recentes e com a importância de lutar contra qualquer forma de racismo que continua a prevalecer na nossa sociedade”.
Dois filmes portugueses concorrem na secção paralela Horizontes: a longa-metragem Listen, de Ana Rocha de Sousa, formada pela London Film School, e a curta-metragem The Shift, de Laura Carreira, a viver em Edimburgo, sobre o trabalho e a precariedade.