Acidente com Alfa Pendular em Soure faz dois mortos. Falha humana deverá ser a causa

O comboio seguia no sentido sul-norte. O PÚBLICO apurou que uma máquina de conservação de catenária tinha acabado de sair de uma linha de resguardo da estação de Soure quando foi abalroada pelo Alfa, que descarrilou. O maquinista só teve tempo de accionar o freio de emergência. Presidente lamenta “grave acidente” e aguarda investigação. Linha do Norte cortada.

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Acidente grave faz vítimas mortais DR
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Acidente com Alfa Pendular em Soure Paulo Cunha/Lusa
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Transporte ferroviário
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Acidente com Alfa Pendular em Soure Paulo Cunha/Lusa
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Acidente com Alfa Pendular em Soure Paulo Cunha/Lusa
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Acidente com Alfa Pendular em Soure Sérgio Azenha
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Acidente com Alfa Pendular em Soure Sérgio Azenha
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Acidente com Alfa Pendular em Soure Sérgio Azenha

O descarrilamento de um Alfa Pendular, no concelho de Soure, distrito de Coimbra, fez esta sexta-feira dois mortos e sete feridos graves, dois destes a inspirar maiores cuidados. Um dos feridos com maior gravidade é o maquinista do comboio. As vítimas mortais são dois funcionários que estavam na máquina que estava na linha a reparar uma catenária.

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comboio, com 212 passageiros, seguia no sentido sul-norte e o descarrilamento ocorreu após o embate entre o Alfa Pendular e aquela máquina de trabalho, propriedade da Infra-estruturas de Portugal.

Para já, a vítima que inspira maiores cuidados é o maquinista da CP, com um traumatismo torácico e abdominal. No entanto, saiu da zona do acidente “consciente e orientado”, acrescentou Paula Neto, médica do INEM. Há 36 feridos ligeiros, de acordo com o balanço final do INEM divulgado às 19h40. O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) recebeu 24 feridos, com os restantes 12 a serem transportados para a Figueira da Foz. 

As máquinas estão ainda na via, com operacionais no terreno, a realizar buscas secundárias, para “tirar os pertences das pessoas” para que depois sejam distribuídos, descreve Carlos Tavares, o comandante operacional distrital, que explicou aos jornalistas no local que as vítimas com menor gravidade foram transportadas para o pavilhão gimnodesportivo de Soure. É lá que estão a passar pela triagem do INEM, sendo que algumas já tiveram alta e vão retomar a viagem em Alfarelos, em direcção a Braga, para onde se deslocava o Alfa. 

Descrevendo um cenário “muito confuso” no local, o presidente dos Bombeiros Voluntários de Soure, José Bernardes, avançou que bastantes passageiros conseguiram sair do Alfa, “alguns com ferimentos ligeiros”.

O comboio colidiu pelas 15h35 com uma dresina (veículo de inspecção de via), tendo descarrilado, depois de ter saído de Lisboa pelas 14h com destino a Braga, onde deveria chegar às 17h30.

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José Pereira, de 73 anos, apanhou o comboio às 14h na Gare do Oriente, Lisboa, com mulher e neto. O objectivo era chegar a Vila do Conde, onde reside, mas a viagem foi abortada em Soure. Diz que só ouviu “o choque, o comboio a travar e a desfazer-se”, numa confusão de ferros e malas. Com algumas escoriações, o passageiro, de t-shirt e calções, conta que foram “minutos largos de pânico”, mas que foi a “calma das pessoas e a entreajuda” que ajudou a não agravar a situação. Só com a chegada dos bombeiros é que os passageiros conseguiram sair, diz José Pereira, que viajava na carruagem seis, perto da frente do comboio.

O que poderá ter acontecido

O PÚBLICO apurou que o veículo de conservação de catenária tinha acabado de sair de uma linha de resguardo da estação de Soure quando foi abalroada pelo Alfa, que, com a violência do embate, descarrilou. O maquinista só teve tempo de accionar o freio de emergência (um manípulo que faz parar a composição no mínimo período de tempo possível), tendo conseguido sair da cabine de condução, o que lhe terá salvo a vida. Ainda assim, com a violência do impacto ficou inconsciente. 

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A gestão do tráfego ferroviário da Linha do Norte naquele local é feita a partir do Centro de Comando Operacional de Braço de Prata (em Lisboa). A infra-estrutura ferroviária é dotada de modernos sistemas de sinalização e telecomunicações, estando afastada qualquer hipótese que o acidente se tenha dado devido à existência de sistemas obsoletos.

O Alfa Pendular, tal como todos os comboios, é dotado de um computador de bordo designado Convel (Controlo de Velocidade) que faz parar a composição caso o maquinista não respeite um sinal amarelo ou vermelho. Contudo, o veículo de inspecção da catenária não dispõe desse mecanismo, pelo que, caso o seu condutor desrespeite a sinalização, não há nenhuma redundância em termos de segurança.

Uma explicação plausível para o acidente terá sido o condutor do veículo, por distracção, não se ter apercebido que o sinal estava fechado e ter entrado na via principal.

O administrador do site especializado Portugal Ferroviário, João Cunha, diz que é muito difícil que a falha que originou o acidente tenha estado no Alfa Pendular ou na sinalização. “Ambos têm sistemas de segurança verdadeiramente de topo. Não sendo impossível que algo tenha falhado, uma falha produziria uma reacção que interromperia toda a circulação. O ponto débil é o veículo de conservação de catenária, que não tem sistema de segurança embarcado”, explicou ao PÚBLICO.

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Na opinião de João Cunha, a máquina de trabalho terá entrado na linha num momento em que o Alfa Pendular já teria ultrapassado a última sinalização, uma incompatibilidade de “20 a 30 segundos” que terá sido decisiva para o choque entre os veículos.

Com uma enormíssima probabilidade, este veículo ‘invadiu’ a linha no último momento, o Alfa já teria passado o sinal de entrada da estação e, quando isso acontece, já não existem mais sinais pela frente”, disse.

O presidente do Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses, António Domingos, defendeu, à Lusa, a existência de um sistema redundante de segurança nas vias férreas para evitar acidentes como este.

Por sua vez, o especialista em Transportes e Vias de Comunicação Luís Cabral da Silva considerou esta sexta-feira que o acidente foi “criminosamente grave” e “inexplicável”. “Não se percebe como é que um comboio Alfa Pendular vá bater numa dresina que está a fazer a manutenção da linha onde o comboio vai passar. Isto é um exemplo da irresponsabilidade completa”, afirmou o especialista à agência Lusa.

Luís Cabral da Silva questionou ainda o facto de o sinal da linha não estar fechado e de não ter existido “qualquer comunicação” sobre a presença da máquina no local. “Quem é que a mandou para lá? Acho que isto não se deve fazer durante o dia. Tudo isto aponta para uma grande incompetência criminosa da Infra-estruturas de Portugal”, sublinhou.

Linha do Norte cortada

De acordo com a site da Protecção Civil, pelas 17h02, as operações no local envolviam 176 operacionais, 69 viaturas e duas aeronaves. No local está montado um Posto Médico Avançado (PMA) do INEM para “triagem e estabilização dos feridos para posterior evacuação para unidades unidades de saúde”.

A Linha do Norte está cortada. Os comboios de longo curso nesta linha não deverão sair durante a tarde desta sexta-feira – passageiros do Porto para Lisboa e Algarve e de Lisboa para Beira Alta e Porto não têm comboio. Circulam apenas os Intercidades para a Beira Baixa e os regionais Lisboa - Entroncamento e Aveiro - Coimbra. Os comboios Coimbra - Figueira da Foz também circulam normalmente.

O Alfa Pendular embateu à saída da estação de Soure, num troço em que a velocidade é de 180 km/hora. O veículo de conservação da catenária funciona a diesel e é estruturalmente muito mais frágil do que o Alfa.

Marcelo lamenta “grave acidente” e espera por investigação

O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) vai investigar o descarrilamento. A equipa de investigação esteve no local a apurar as circunstâncias em que se deu o acidente. “O GPIAAF terminou a recolha de evidências no local do acidente, tendo também estado no Centro de Comando Operacional (CCO) de Lisboa da IP a recolher informação relevante. Durante o dia de amanhã [sábado] será publicada uma nota informativa dando conta dos factos do acidente, incluindo a sua sequência de eventos”, informou pelo Facebook.

A máquina de trabalho não tinha o Convel, mas possui uma fita registadora, o que poderá permitir às autoridades apurar o que se passou.

O Presidente da República lamentou “o grave acidente”, “de cujos detalhes foi informado pelo Ministro das Infra-estruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos”. Numa nota publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa apresenta “sentidas condolências aos familiares e amigos das vítimas mortais e desejando rápidas melhoras aos numerosos feridos, aguardando os resultados das investigações técnicas e judiciais”.

Em declarações aos jornalistas, no Algarve, o Presidente disse que visitará os feridos de maior gravidade no sábado, se receber autorização para tal.

O primeiro-ministro reagiu ao acidente no Twitter. António Costa diz que está a acompanhar em permanência a evolução da situação, deixando condolências às famílias das vítimas mortais e desejo de melhoras aos feridos.

Segurança da ferrovia não está em causa, diz Pedro Nuno Santos

O ministro das Infra-Estruturas, Pedro Nuno Santos, chegou a Soure ao final da tarde desta sexta-feira. “Temos que aprender com o que aconteceu e perceber o que aconteceu para diminuir ainda mais o risco de acidentes na ferrovia”, disse aos jornalistas, a poucos metros do local do acidente. Depois de dar as condolências às famílias dos dois trabalhadores que morreram, questionado sobre eventuais falhas de comunicação, o ministro disse que queria esperar pelo relatório técnico para poder conhecer as causas.

“Não está em causa a segurança da operação ferroviária em Portugal”, disse o ministro. A ferrovia, referiu, “é um dos meios [de transporte] mais seguros que nós temos”, mas isso “não impede que os acidentes possam acontecer, como este aconteceu”.

Ainda não se sabe durante quanto tempo vai ficar interrompida a circulação na Linha do Norte nem em que condições fica a infra-estrutura. “Vamos ter que esperar”, respondeu. “Neste momento, não é essa a preocupação”.

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