Estamos na quarta das quinze canções. Já ouvimos sintetizadores atmosféricos a amparar a braguesa, já entranhámos os sons nocturnos, ou melhor os sons que começam a erguer-se quando o dia se despede e outra natureza acorda. Nesta altura, já Trad-Mosh transformara cenário familiar em manifesto popular progressista. Chega então A mula e a raposa e tentamos identificar os elementos que a compõem para lhe apor fórmula química bem definida. Há farrapos de fado a evaporar nos interstícios da percussão tradicional criada digitalmente, há lamento de morna e balanço de semba no coração assombrado da canção, há um sintetizador com voz de theremin a silvar entre ecos dub e o espírito do Torga animista a guiar a fábula: “A raposa pôs-se à escuta e ouviu o burburinho da extinção/ Também já não estava à espera de mais que uma imensa solidão”.
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