Bielorrússia acusa mercenários russos de estarem ao serviço de candidato da oposição
Foram detidos 33 mercenários ligados ao grupo Wagner e as autoridades dizem que há 200 no país.
As autoridades bielorrussas disseram ter detido 33 mercenários russos que estariam a preparar “actos terroristas” no país, nas vésperas das eleições presidenciais marcadas para 9 de Agosto, e acusaram o marido de uma candidata da oposição de estar ligado ao grupo.
O KGB (sigla dos serviços secretos bielorrussos) disse que os mercenários detidos na quarta-feira pertencem ao grupo Wagner, uma empresa privada de segurança muito próxima do Kremlin e que tem actuado em vários cenários de guerra com o objectivo de proteger os interesses russos, como na Síria, Ucrânia e Líbia.
O secretário do Conselho de Segurança, Andrei Ravkov, afirmou que cerca de 200 mercenários russos atravessaram a fronteira nos últimos dias e permanecem no país. O objectivo, de acordo com a agência estatal BelTA, seria “desestabilizar” a Bielorrússia tendo em vista as eleições de dia 9.
O embaixador russo em Minsk foi chamado para prestar esclarecimentos, diz a Reuters. Moscovo pediu explicações ao Governo bielorrusso sobre as suspeitas que recaem sobre os cidadãos russos.
Os serviços secretos dizem que os mercenários estão ligados a Siarhei Tsikhanouski, um conhecido youtuber e marido da candidata presidencial Svetlana Tsikhanouskaia, e foi lançada uma investigação criminal, diz a BelTA. Tsikhanouski, que queria candidatar-se às eleições, está preso há várias semanas acusado de incitar protestos contra o Governo.
A candidata negou que ela ou o marido tenham alguma relação com os militares detidos e deixou um apelo à comunidade internacional para que não permita que o regime do Presidente Aleksander Lukashenko, use violência contra o próprio povo.
Favorecimento de Lukashenko
A detenção de homens ligados a operações militares patrocinadas pelo Kremlin vem acrescentar um novo ingrediente à situação política que já era tensa na Bielorrússia. Lukashenko enfrenta o mais sério desafio ao seu poder desde que chegou ao cargo em 1994.
A sua má gestão da pandemia de covid-19 foi o rastilho para que protestos antigovernamentais fossem convocados um pouco por todo o país, animando a oposição para as eleições presidenciais. Dois dos candidatos que se perfilaram para concorrer contra Lukashenko acabaram por ser impedidos de avançar, e apenas resta Tsikhanouskaia como a esperança de haver alternância no poder.
A detenção dos mercenários está a ser interpretada como uma jogada para favorecer Lukashenko e aplacar os protestos. “As autoridades estão a usar os elementos da Wagner para assustar as pessoas antes das eleições para inventarem um thriller sobre militantes russos”, disse à Associated Press o analista Alexander Alesin.
Uma possibilidade que tem sido avançada para explicar a presença dos militares na Bielorrússia é a de que estariam apenas de passagem para chegar a outro destino. Esta tese ganhou alguma força depois de imagens televisivas da detenção ter mostrado moeda sudanesa entre os pertences dos mercenários.
“Não é uma rota usual para a Wagner, mas durante a pandemia poderia ser útil usar o país como ponto de passagem para um pequeno grupo de soldados”, disse ao Moscow Times o jornalista Denis Korotkov, que tem seguido as actividades do grupo nos últimos anos.
Apesar de a Rússia ser o principal aliado diplomático e económico da Bielorrússia, a relação entre os dois países é marcada por períodos de maior proximidade mas também de alguma irritação. Moscovo não esconde a intenção de aprofundar os laços económicos e políticos com a antiga república soviética, mas em Minsk essas investidas são vistas como avenidas que levam a uma futura integração total na Federação Russa.
Desde que está no poder, Lukashenko tem adoptado uma postura pragmática, ora privilegiando as boas relações com a Rússia a troco de subsídios para a compra de petróleo e gás natural, ora ensaiando aproximações ao Ocidente.