Descoberta uma nova espécie de morcego em Portugal
A espécie tinha sido identificada em 2001, em exemplares da Grécia e Hungria, e agora a sua presença foi detectada também em Portugal.
No Parque Nacional da Peneda-Gerês, uma equipa de cientistas foi descoberta uma nova espécie de morcego que poderá estar distribuída por “toda a região Norte”. O registo desta nova espécie, designada morcego-de-bigodes-de-alcatoe (Myotis alcathoe), acaba de ser descrito na revista Biodiversity Data Journal por cientistas do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-InBio) da Universidade do Porto.
A presença em território nacional desta espécie era, até agora, desconhecida, ainda que o indivíduo que permitiu a descoberta tenha sido capturado em 2005 no Parque Nacional da Peneda-Gerês. À época, os investigadores registaram o indivíduo como sendo da espécie do morcego-de-bigodes (Mytosis mystacinus) devido à presença de “características muito semelhantes e quase indistinguíveis”.
A verdadeira identidade desta nova espécie só foi confirmada neste estudo, coordenado por Vanessa Mata e Sónia Ferreira. A equipa sequenciou o “código de barras” de ADN de 26 espécies com presença no país”. O “código de barras” do ADN são segmentos curtos de ADN que podem ser analisados para distinguir as diferentes espécies existentes. “De acordo com este estudo, o ADN do indivíduo capturado no Gerês corresponde na realidade à espécie Myotis alcathoe, cuja presença em Portugal era até agora desconhecida”, lê-se num comunicado do Cibio-InBio.
Esta espécie foi descrita em 2001, com exemplares da Grécia e da Hungria e, desde então, a “sua presença tem vindo a ser confirmada um pouco por toda a Europa”. Até agora, os registos mais próximos de Portugal eram no Norte da Galiza, mas o investigadores acreditam que a distribuição desta espécie pode não estar restrita ao Gerês, podendo ter-se alargado a “toda a região Norte em locais com floresta madura atravessada por rios”.
Esta espécie junta-se assim ao recentemente “confirmado morcego-de-franja-críptico, capturado no sítio de importância comunitária Alvão/Marão”, refere o comunicado, observando que esse estudo, desenvolvido por investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, foi publicado em Maio na revista Barbastella - Journal of Bat Research and Conservation.
O estudo agora divulgado foi desenvolvido no âmbito dos projectos EnvMetaGen e PORBIOTA, uma iniciativa que consiste na construção de uma biblioteca de “código de barras” de ADN focada especialmente em animais invertebrados, mas que inclui agora quase todos os quirópteros (morcegos) portugueses, adianta ainda o comunicado. “Espera-se que esta colecção de referência do Cibio-InBio seja uma ferramenta fundamental para a monitorização da biodiversidade a longo prazo e em larga escala na Península Ibérica, assim como para a descoberta de novas espécies em Portugal e no mundo.”