Presidente da Bielorrússia, que aconselhou vodca contra a covid-19, diz que esteve infectado

Alexandr Lukashenko não aceitou as recomendações da OMS e refere-se à pandemia como uma “psicose”.

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Lukashenko numa visita a um quartel na terça-feira EPA

O Presidente da Bielorrúsia, Alexandr Lukashenko, descrito pelos seus críticos como “o último ditador da Europa” e um dos líderes políticos que mais têm desvalorizado a pandemia de covid-19, disse esta semana que já esteve infectado com o novo coronavírus e que continuou sempre a trabalhar porque não teve sintomas.

A declaração de Lukashenko, citada na terça-feira pela agência de notícias estatal da Bielorrússia, a Belta, não foi confirmada por fontes independentes, nem o Presidente bielorrusso mostrou documentos que comprovem a sua afirmação.

“Peço desculpa pela minha voz, tenho falado muito nos últimos tempos”, disse Lukashenko numa visita a um quartel, em Minsk, a poucos dias das eleições que deverão dar-lhe um sexto mandato consecutivo como Presidente da Bielorrússia.

“É incrível, mas eu fui infectado com o coronavírus. Foi essa a conclusão a que os médicos chegaram ontem. Foi um caso assintomático.”

Lukashenko é o único Presidente que a Bielorrúsia teve desde o fim da União Soviética, em 1991, e prepara-se para estender o seu poder no país por mais cinco anos anos. Foi eleito pela primeira vez em 1994 e desde então tem sido reeleito em actos eleitorais marcados por fraude e perseguições políticas a opositores.

Nas eleições de 9 de Agosto terá a oposição de candidatos tolerados pelo regime e espera-se que seja reeleito sem dificuldade. Ainda assim, recentes manifestações na capital, Minsk, incluindo inéditos protestos nas redes sociais por elementos do Exército e da polícia, indicam que o seu poder é cada vez mais frágil.

Mas a sua manutenção no poder tem sido mais contestada este ano, principalmente por causa da forma como tem gerido a pandemia de covid-19. Em várias ocasiões aconselhou a toma de remédios caseiros, e mesmo de vodca, para combater o novo coronavírus.

Na terça-feira voltou a fazer uma declaração que não é confirmada por nenhum estudo internacional — a de que 97% das pessoas infectadas com o novo coronavírus na Bielorrússia recuperaram sem terem registado quaisquer sintomas.

De acordo com os estudos do Centro para a Prevenção e Controlo das Doenças norte-americano, esse valor ronda os 40%.

Ao afirmar, sem provas, que foi infectado com o novo coronavírus e que não teve sintomas, e que pôde continuar a trabalhar sem restrições, Lukashenko reforça a sua ideia — desmentida por cientistas e especialistas em saúde pública — de que a melhor resposta à pandemia é manter o país a funcionar sem restrições.

Alexandr Lukashenko é o único líder político europeu que se recusou a adoptar as recomendações da Organização Mundial da Saúde para o combate ao novo coronavírus. E disse que o encerramento do comércio e outras medidas restritivas seria pior para o país do que a própria pandemia, a que chamou “psicose”.

Com uma população semelhante à de Portugal em termos de dimensão (9,4 milhões), mas com uma densidade populacional quase três vezes mais pequena, a Bielorrússia registou até agora 67.366 casos (mais 16.956 do que em Portugal) e 543 mortes (menos 1179).

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