Parceiros sociais foram a Belém dizer que o pior pode estar para vir
Sem um alargamento do layoff simplificado, patrões e sindicatos antevêem nova subida do desemprego. Indústria sugere menos impostos, Comércio pede “choque de consumo”.
Os parceiros sociais estiveram esta quarta-feira em Belém. As audiências com o Presidente da República coincidiram com o dia em que o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que a taxa de desemprego subiu para 7% em Junho e que desde o início da pandemia até Maio desapareceram 183 mil postos de trabalho. Os números assustam e tanto patrões como sindicatos estão pessimistas. O pior pode estar para vir, admitem, apesar da nota de optimismo que o ministro da Economia quis deixar também esta quarta-feira.
À saída do encontro, o presidente da CIP, António Saraiva, lamentou que o Governo não tenha querido alargar o layoff simplificado até Dezembro, mas admitiu que mesmo que o fizesse o desemprego ia continuar a aumentar.
Saraiva disse que, normalmente, nesta altura, as carteiras de encomendas das empresas estão fechadas até final do ano, mas que desta vez isso não está a acontecer. “Em sectores como o têxtil, o calçado ou a metalurgia as carteiras de encomendas estão a esgotar-se, indo até Setembro”.
“Há o perigo muito objectivo de aumento do desemprego” face aos níveis hoje conhecidos, afirmou o responsável da indústria. António Saraiva admitiu, em declarações transmitidas pela RTP3: “Vamos ter empresas que vão desaparecer”. E apelou a que se faça tudo para conter o desemprego potencial “que hoje todos percepcionamos.”
O pessimismo de Saraiva esteve em linha com o que antes tinha sido transmitido pelos sindicatos, que foram ouvidos em Belém na parte da manhã. A taxa de desemprego de 7% “assusta e assusta o que poderá ser o futuro”, disse a presidente da UGT, Lucinda Dâmaso.
“Sabemos que com o layoff que existe neste momento, as empresas têm que manter os trabalhadores por 60 dias. Será que depois dos 60 dias não vai haver mais desemprego?”, perguntou a dirigente sindical.
Isabel Camarinha, a secretária-geral da CGTP, mostrou-se pessimista também quanto ao futuro imediato. “O desemprego pode voltar a aumentar se não houver alteração nas opções políticas”, disse a dirigente sindical, acrescentando que é “preciso que o Governo altere as suas opções e que garanta o emprego e os salários”. “Temos grandes preocupações com o que vai acontecer quando terminar o layoff simplificado”, disse Isabel Camarinha.
A ideia de que as condições no mercado de trabalho se vão agravar esteve também presente na mensagem que João Vieira Lopes deixou aos jornalistas depois da audiência com o chefe de Estado. “O desemprego é inevitável”, afirmou o responsável da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP).
O responsável considerou que as medidas de substituição do layoff simplificado são “difíceis de aplicar na prática” e que é de prever que parte das empresas “não vão impedir um efeito, em Setembro/Outubro, de encerramento ou redução dos seus quadros”.
A Confederação do Turismo também apostou numa nota de pessimismo. Francisco Calheiros falou da “falta de medidas” do Governo, disse que o fim do layoff simplificado é “inexplicável”, que o Programa de Estabilização “tarda em aparecer” e que os fundos europeus “nunca virão antes do segundo semestre do ano que vem”.
O responsável pelo Turismo queixou-se ainda da falta de estrangeiros, nomeadamente, residentes do Reino Unido, a fazer turismo em Portugal e defendeu que os turistas residentes em território nacional não vão conseguir compensar a perda resultante da falta de visitantes de outros países.
O pessimismo contrasta com o sinal de optimismo dado pelo ministro de Estado e da Economia. “O ponto crítico da contracção económica já ficou para trás”, dissera antes Pedro Siza Vieira, de visita a fábricas no Norte, numa altura em que o Governo já tem um cenário interno onde admite que a economia pode recuar este ano 9%.
Os planos do Comércio e da Indústria: menos impostos
Sem layoff simplificado alargado, leia-se sem ajuda directa do lado da oferta, Vieira Lopes foi defender junto do Presidente da República soluções para impulsionar a procura. “Vemos necessidade de haver um choque de consumo”, lembrando que, por exemplo, na Alemanha o governo baixou o IVA da restauração por um ano. E deixou outras ideias: um alívio nas taxas de retenção na fonte que incidem sobre os salários e um aumento do número de produtos que podem ser abatidos no IRS.
Antes, o patrão da indústria sugeria uma descida na carga fiscal. António Saraiva contou aos jornalistas que deixou ao Presidente “um draft” do documento que vai apresentar em Setembro, por altura da preparação do Orçamento do Estado para 2021, sobre a carga fiscal que incide sobre todos os sectores de actividade, sugerindo assim que o pedido que porá ao executivo naquela altura passará por um alívio nos impostos para as empresas.