Os Prémios PLAY estão de volta – e querem celebrar a música portuguesa no meio da crise
A cerimónia originalmente marcada para 25 de Março realiza-se esta quarta-feira num Coliseu dos Recreios reduzido a uma lotação de pouco mais de 300 espectadores. A mensagem é de união, num ano particularmente difícil para quem vive da música.
O que têm Pedro Abrunhosa e ProfJam em comum? Não é a mais evidente das associações, por mais que seja engraçado imaginar o autor de Fazer o que ainda não foi feito a declamar “se ‘tou num Fight Club/ então pito do meu bread”. Mas, para os Prémios PLAY, não foi um par difícil de juntar. Na segunda edição desta gala dos prémios da música portuguesa, que é transmitida esta quarta-feira na RTP1 e na Antena 1 (com live-streaming nas plataformas RTP Play), pelas 21h, vamos poder assistir a vários duetos, uns mais óbvios do que outros. Pedro Abrunhosa e ProfJam, Papillon e Murta, Camané e Mário Laginha, Ana Bacalhau e Diogo Piçarra. Pop, rock, fado, hip-hop, não interessa. Numa fase de incerteza agravada para um sector que ainda não tem perspectivas de retoma claras ou animadoras, a organização dos PLAY quer criar um momento de “união em torno da música portuguesa” – em todas as suas cores e vertentes.
São 13 as categorias a concurso, desde as menções aos melhores discos e vídeos musicais do ano passado às distinções que reconhecerão nomes fortes do jazz ou da música clássica. Camané (Aqui Está-se Sossegado), ProfJam (#FFFFFF), Slow J (You Are Forgiven) e os Capitão Fausto (A Invenção do Dia Claro) estão na corrida pelo título do melhor álbum de 2019, ao passo que Bárbara Tinoco, Murta, Nenny e Tiago Nacarato são os nomeados para o Prémio Revelação. Em destaque há ainda a Vodafone Canção do Ano, o único prémio que pode ser determinado pelo público, através de uma votação telefónica cujas receitas reverterão para o Fundo de Solidariedade para a Cultura, criado a meio de Junho.
Algumas das categorias correspondem a novidades e remodelações face à edição inaugural (são os casos dos prémios de Melhor Álbum Jazz e Melhor Álbum Erudito, substitutos do Melhor Grupo Internacional e da Melhor Canção Internacional), mas os PLAY já sabiam há meses – desde que a gala originalmente calendarizada para 25 de Março foi adiada – que iam precisar de repensar grande parte do modus operandi. As actuações dos artistas em directo, por exemplo, são carta fora do baralho, pelo que tiveram de ser gravadas antecipadamente no Coliseu dos Recreios. Teria sido incomportável assegurar circuitos e perímetros de segurança para todos os intérpretes e as suas comitivas de uma só vez no dia da gala – que poderá contar na plateia com pouco mais de 300 espectadores, menos de metade da lotação máxima da sala –, explica ao PÚBLICO o director executivo dos PLAY, Paulo Carvalho. “Fomos mauzinhos para as bandas, demos-lhe um plano de horários muito apertado. Entre as desinfecções do material e a necessidade de evitar encontros prolongados nos corredores, tivemos de agilizar os procedimentos ao máximo”, sublinha.
Paulo Carvalho avança também que, para além dos prémios, que serão entregues “por artistas a artistas”, haverá tempo na cerimónia para a exibição de pequenos filmes gravados de propósito para a ocasião que mostrarão “o que andaram a fazer os trabalhadores deste sector” durante o período pandémico. Nomeados, não nomeados, técnicos de iluminação, técnicos de som, roadies e muitos outros darão, em vídeos de dois minutos, os seus testemunhos sobre como o novo coronavírus acrescentou pontos de interrogação às contas que nem sempre são fáceis de fazer.
“O sector da música foi um dos primeiros a ser cancelado e é o que vai demorar mais tempo a voltar ao normal”, expõe a apresentadora Filomena Cautela, que conduzirá a emissão ao lado da fiel companheira Inês Lopes Gonçalves. É verdade que os concertos vão reaparecendo aqui e ali, com respostas criativas aos desafios da pandemia, mas ainda não existe “uma agenda que permita um regresso com um rendimento digno” àqueles que sobem ao palco e aos invisíveis que o montam. A apresentadora acredita que, depois das indecisões motivadas pelo adiamento em Março, a gala surge num momento “importante” para transmitir “uma mensagem de esperança aos grandes artistas do nosso país” – muitos dos quais não sabem “como vai ser a vida” até ao fim de 2020.
“O desafio”, acrescenta Inês Lopes Gonçalves, “está em fazermos uma coisa leve que não seja leviana”. A apresentadora e locutora de rádio sabe que os espectadores esperam sempre algum do seu característico humor quando a vêem com Filomena Cautela, mas também entende que é impossível separar esta edição dos PLAY da pandemia que “afectou as pessoas de uma forma tão radical”. “Não se quer uma coisa fúnebre. Vamos tentar encontrar as risadas possíveis, entendendo que temos de fazer humor com algum cuidado”, assinala.
Paulo Carvalho salienta que a covid-19 obrigou os responsáveis pela gala a uma logística rigorosa – as equipas de montagem já estão no Coliseu dos Recreios há mais de uma semana –, mas não disfarça o entusiasmo por ver que, depois das incógnitas, os PLAY estão vivos. E a presença do público, embora numa casa que nem vai chegar à metade da lotação – as normas da Direcção-Geral da Saúde permitiam à organização acolher mais uma centena de pessoas, confessa o director executivo, mas “a segurança é a palavra de ordem neste momento” –, é mais do que a cereja no topo do bolo; é a ideia optimista de que, num futuro que se quer próximo, os espectáculos ao vivo poderão regressar com alguma regularidade. Filomena Cautela diz que a “união” do tecido artístico nunca foi tão importante e considera que os PLAY, com a sua saudável mistura de fado, jazz, pop, rock e hip-hop, são um símbolo da mesma. “É a música portuguesa unida numa só voz.”