Suspeito de homicídio de Bruno Candé fica em prisão preventiva
Em causa está a prática de um crime homicídio qualificado e detenção de arma proibida.
O Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Norte decidiu colocar em prisão preventiva o suspeito, um homem de 76 anos, do homicídio do actor Bruno Candé Marques. Há perigos de fuga e, “em razão da natureza e das circunstâncias verificadas, de perturbação grave da ordem e tranquilidades públicas”, justifica o tribunal num comunicado.
O suspeito foi presente a tribunal e foi ouvido ao início da tarde, optando por não prestar declarações. Está indiciado pela prática de crime de homicídio qualificado e detenção de arma proibida. Ficará em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Lisboa. A advogada oficiosa do suspeito, Alexandra Bordalo Gonçalves, é Presidente do conselho de deontologia de Lisboa da ordem dos advogados.
A morte de Bruno Candé, alvejado mortalmente no sábado, em plena Avenida de Moscavide, Loures, por um homem com 76 anos, é atribuída pela família da vítima a motivações raciais, mas a Polícia de Segurança Pública (PSP) diz não ter, até ao momento, qualquer informação que comprove a acusação
A família do actor, negro, adiantou no sábado que o homicida, branco, já o havia ameaçado de morte três dias antes, “proferindo vários insultos racistas” a Bruno Candé e aos seus familiares. “Face a esta circunstância fica evidente o carácter premeditado e racista deste crime hediondo”, escreveu a família em comunicado.
Em declarações ao PÚBLICO, o comissário do Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP, Luís Santos, esclareceu que, “da inquirição das testemunhas todas do local, ninguém fala de actos racistas”. O comissário diz que há relato de “diálogos ou confrontos que podem estar por detrás do incidente, mas não falaram nunca em questões racistas”.
O comissário salvaguarda, no entanto, que “há muita coisa que agora se poderá desenvolver” durante a investigação. Por se tratar de um homicídio, o caso foi entregue à Polícia Judiciária (PJ). Luís Santos acrescentou ainda que o autor do homicídio está sob custódia da PSP num dos departamentos do Comando Metropolitano de Lisboa, e que vai ser presente a um juiz nesta segunda-feira.
A possibilidade de o crime de sábado ter tido motivações raciais tem sido mencionada por responsáveis políticos e organizações cívicas. O director executivo da Amnistia Internacional Portugal, Pedro Neto, sublinha que “tudo leva a crer, e a família da vítima assim o diz, que foi um crime com motivação racista”. Também o SOS Racismo caracterizou o homicídio de Bruno Candé como “um crime com motivações de ódio racial”, pedindo “justiça” e que “o assassínio não seja mais um sem consequências”.
Neste domingo, também o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, repudiou o homicídio de Bruno Candé Marques e defendeu a acção das forças de segurança. “Houve uma intervenção da PSP, que deteve de imediato o alegado responsável”, disse, acrescentando que “as autoridades judiciárias tomarão as suas decisões” perante um crime que o Governo repudia “vivamente”.