Duterte diz que não pode enfrentar a China por causa de questões territoriais

No discurso anual, o Presidente filipino prometeu continuar a ter mão pesada contra o tráfico de droga, apesar das críticas de violação de direitos humanos.

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Rodrigo Duterte defendeu as políticas de combate ao novo coronavírus durante o discurso do estado da nação EPA/CEMION / PPD HANDOUT

O Presidente filipino, Rodrigo Duterte, admitiu não ter condições para confrontar Pequim por causa das reivindicações territoriais no Mar do Sul da China, apesar de uma decisão de um tribunal internacional ter vindo dar razão ao Governo de Manila.

Duterte justificou, durante o discurso sobre o estado da nação, esta segunda-feira, a decisão de não usar uma sentença do Tribunal Arbitral de Haia de 2016 que veio determinar as reivindicações chinesas inválidas. “Não podemos ir para a guerra”, afirmou o Presidente filipino, citado pela Reuters.

Há vários anos que os dois países reclamam a soberania sobre parte do Mar do Sul da China, um dos pontos mais importantes do tráfego mundial de comércio marítimo, mas Pequim tem levado mais longe as suas intenções, através da construção de ilhas artificiais. A chegada de Duterte ao poder, em 2016, coincidiu com uma aproximação das Filipinas – um aliado histórico dos EUA na região – à China.

No seu discurso desta segunda-feira, Duterte revelou também ter pedido ao Presidente chinês, Xi Jinping, para que as Filipinas sejam um dos primeiros países a ter acesso à vacina contra a covid-19 que está a ser desenvolvida na China.

“Há quatro dias, fiz um pedido ao Presidente Xi Jinping para que, se eles tiverem a vacina, possam deixar-nos ser um dos primeiros” compradores, disse Duterte no seu discurso.

Desde o fim do período de confinamento, a 1 de Junho, o número de casos quadruplicou nas Filipinas – hoje são mais de 82 mil e cerca de duas mil mortes. No seu discurso, Duterte disse que as medidas de restrição evitaram entre 1,3 e 3,5 milhões de infecções.

Política violenta continua

O Presidente prometeu manter a política de mão pesada contra o tráfico e consumo de droga, uma das imagens de marca da sua governação, mas também uma fonte de muitas críticas, dentro e fora do país, que o acusam de promover execuções extrajudiciais pela polícia e por “esquadrões da morte”. No início do mês, foi aprovada uma polémica lei anti-terrorismo, ao abrigo da qual suspeitos de terrorismo podem ser detidos por tempo indeterminado e sem necessidade de mandado.

“A minha Administração acredita que a liberdade face às drogas ilegais, o terrorismo, a corrupção e a criminalidade é em si mesmo um direito humano”, disse Duterte, numa resposta aos que o acusam de não proteger os direitos humanos.

Uma das principais fontes de críticas ao Governo de Duterte é a Igreja Católica, que exerce uma forte influência nas Filipinas. Na véspera do discurso, o bispo Gerardo Alminaza acusou o Presidente de ter as mãos sujas com o “sangue de inocentes”.

“Uma parte significativa do nosso povo, aliciado a acreditar na promessa de ‘mudança’, saudou a Administração sob a liderança do Presidente por ter alegadamente libertado o nosso país do terrorismo e do crime. A única coisa que foi capaz de fazer, no entanto, foi manchar as suas mãos com o sangue dos inocentes cujo silêncio queria, e das vítimas crescentes da covid-19 que escolheu negligenciar”, escreveu o bispo.

O próximo passo de Duterte na sua guerra contra o crime é a reintrodução da pena de morte, um tema que voltou a abordar no discurso. Depois de ter sublinhado a sua intenção, o Presidente não deixou passar a falta de entusiasmo dos deputados que assistiam ao discurso. “Não ouvi muitos aplausos, portanto presumo que eles não estejam interessados. Um dia, irei contar-vos a história do que aconteceu nas Filipinas”, afirmou.

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