África do Sul já é o quinto país com mais casos de covid-19 no mundo
O aumento de casos no continente africano está a preocupar a OMS. Os sul-africanos são os mais atingidos com 445 mil infectados e mais de seis mil mortes confirmadas.
O número de infecção não pára de subir no continente africano e a África do Sul já é o quinto país mais atingido pela pandemia de covid-19 no mundo. O país registou nas últimas 24 horas mais 11 mil casos de covid-19 e 124 mortes, totalizando mais de 445 mil infectados (mais de metade dos casos registados no continente) e seis mil vítimas mortais, quando as autoridades se preparam para o pico que se prevê estar iminente.
“Se mudarmos de comportamento, podemos alterar os números de infectados”, disse esta segunda-feira o ministro da Saúde sul-africano, Zweli Mkhize. “Estamos à espera, de acordo com os modelos, de ter um Agosto e um Setembro com números elevados. Cada província tem a sua própria trajectória”.
A província de Cabo Ocidental é a que mais preocupa as autoridades, ao registar o maior número de mortes do país (2865), seguindo-se a província de Gauteng, onde já foram abertas mais de um milhão de sepulturas, e Cabo Oriental. Os seus hospitais deverão entrar em ruptura num futuro próximo. As outras seis províncias identificaram até ao momento menos de mil infecções.
No entanto, os números oficiais podem estar aquém de contabilizar todos os infectados e, principalmente, as vítimas mortais. A África do Sul registou nas últimas semanas um aumento de quase 60% no número de mortes não relacionadas oficialmente com a pandemia, concluiu um estudo do Conselho de Investigação Médico Sul-Africano (SAMRC, sigla em inglês). Ou seja, morreram mais 17 mil pessoas entre Maio e Julho, em comparação com os anos anteriores.
“Os números mostram um crescimento imparável nas últimas semanas. Na segunda semana de Julho, houve 59% mais mortes de causas naturais do que seria de esperar com base em dados históricos”, disse em comunicado a organização.
O aumento alarmante de casos na África do Sul pode ser o ponto de partida para uma série de novos surtos no continente, avisou na semana passada a Organização Mundial de Saúde. “Estou muito preocupado de que seja o início da aceleração da doença em África”, disse Michael Ryan, director do programa de emergência da organização mundial.
O Governo sul-africano foi inicialmente elogiado pela resposta célere à pandemia, decretando o confinamento obrigatório no final de Março, quando o país tinha 400 casos, mas nas últimas semanas viu-se forçado a levantar algumas das medidas de confinamento antes de o vírus estar sob controlo. A pressão da pobreza e do desemprego, que aumentaram substancialmente por causa da quarentena, forçou o executivo do Presidente Cyril Ramaphosa a reabrir em parte a economia. Uma grande parte dos sul-africanos depende do que ganha ao dia para se sustentar e às suas famílias e centenas de milhares estão agora totalmente dependentes de ajuda alimentar para sobreviver.
O rápido aumento de casos, com previsões de que o pico esteja próximo, levou o Governo a dar um passo atrás no desconfinamento, decretando o encerramento de todas as escolas, por um mês, a partir desta segunda-feira. O anúncio foi feito num momento em que o Governo é duramente criticado pela gestão da crise pandémica e por se saber de casos em que fundos dedicados ao combate à pandemia e para equipamento de protecção individual foram desviados por funcionários públicos.
“Pelo menos 36 casos estão neste momento em várias fases de investigação e acusação”, disse Ramaphosa, anunciando ter destacado uma equipa multifacetada para detectar situações de corrupção. “A luta contra a pandemia de coronavírus está a esticar as nossas capacidades e recursos até ao limite. Não deve haver roubos, desperdícios ou má gestão de fundos públicos”.
África tem até esta segunda-feira mais de 844 mil casos, dos quais 489 mil recuperados, e 17.682 mortes, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças de África. A grande maioria dos casos (445 mil) encontram-se na África do Sul, o quinto país mais atingido no mundo pela pandemia, e o Presidente já admitiu que o número de mortes no país pode chegar às 50 mil.
A OMS tem mostrado confiança na veracidade dos números oficiais no continente africano, admitindo, no entanto, que a baixa capacidade de realização de testes é uma preocupação. Outra das grandes preocupações prende-se com a pressão sobre os sistemas de saúde frágeis que podem entrar em ruptura, seja por falta de camas hospitalares, ventiladores ou mesmo por falta de recursos humanos num momento cada vez mais crítico.
Soube-se na semana passada que mais de dez mil profissionais de saúde estão infectados em África, por causa da falta de equipamento individual de protecção, uma das grandes debilidades apontadas por quem está no terreno. "Os profissionais de saúde estão preocupados em levar o vírus para as suas casas, sofrem pressões psicológicas ao trabalharem sem parar e ao enfrentar estigmas e discriminações em algumas comunidades”, disse a directora para África da OMS, Matshidiso Moeti.