Uma em cada cinco crianças em risco de pobreza na Alemanha
Números da pobreza infantil não baixam há anos. Relatório da Fundação Bertelsmann avisa para efeitos da pandemia num problema social que o país parece não conseguir resolver.
Cerca de 2,8 milhões de crianças, ou seja, uma em cada cinco, estão a crescer afectadas pela pobreza na Alemanha, segundo um relatório da Fundação Bertelsmann publicado nesta quarta-feira. A pandemia deverá piorar a pobreza infantil, um problema que o país tem já há anos.
“A luta contra a pobreza infantil tem sido nos últimos anos um dos grandes desafios sociais na Alemanha”, notava o relatório da Bertelsmann, acrescentando que desde 2014 têm sido registadas muito poucas melhorias. É “uma grande obra inacabada”, declaram as autoras.
O relatório considerou para efeitos de pobreza vários factores, não só contando as famílias que recebem o apoio social de desemprego de longa duração (conhecido como Hartz IV), como as famílias cujo rendimento é menos do que 60% da média do rendimento nacional, o que as leva a estar em risco de pobreza.
Os efeitos concretos de pobreza na Alemanha incluem quem não tem um carro ou quaisquer equipamentos electrónicos em casa, não poder ir de férias, ou não consegue pagar actividades como ir ao cinema, segundo o relatório.
“A pobreza infantil mantém-se um problema estrutural com consequências consideráveis para o crescimento, bem-estar, educação e perspectivas futuras das crianças”, sublinham as autoras.
A pandemia ameaça piorar esta situação, avisam. Pais de crianças em risco de pobreza trabalham normalmente trabalhos precários, a tempo parcial, e por isso têm sido afectados de modo desproporcional pela perda de emprego e de rendimento provocada pela pandemia.
Outro problema é a falta de equipamento destas crianças para seguir aulas online, por exemplo: 24% das que vivem em famílias que recebem o apoio social básico não têm acesso a um computador com Internet, aponta o relatório.
Em Fevereiro, a Federação dos Sindicatos da Alemanha notava também que apesar de o número de pessoas empregadas ter vindo a aumentar nos últimos anos na Alemanha e o desemprego ser muito baixo, isto não se reflectiu numa diminuição significativa da pobreza infantil, com números oficiais de 2,5 milhões de crianças em risco de pobreza.
As desigualdades na Alemanha têm sido um tema cada vez mais investigado no país, já que o crescimento económico não beneficiou todos por igual, muito pelo contrário. Se a queda do desemprego é notória (a taxa de desemprego chegou a 11% em 2005, em 2019 foi de 3%), muito do emprego criado, por exemplo, é precário (cerca de 12% de todos os empregos eram precários em 2018, segundo a fundação Hans Böckler) e muitas vezes mal pago.
Mesmo a introdução, em 2015, de um salário mínimo nacional que acabou com as categorias mais baixas de salários dos “minijobs” (em alguns locais do país e em alguns sectores, chegavam a ser pagos a um euro por hora, embora estes fossem casos extremos) não resolveu a questão: o salário mínimo (9,19 euros por hora, bruto) é ainda assim muito próximo do valor mensal que define o risco de pobreza (porque este é relativo ao salário médio).
A pobreza infantil é ainda especialmente problemática porque é difícil sair dessa situação. Ainda que duas em cada três crianças de famílias com baixos rendimentos consigam escapar à pobreza em adultas, só metade o fizeram depois de deixar a casa dos pais, segundo um estudo do Instituto de Assistência Social e Pedagogia de Frankfurt, feito ao longo de 20 anos e apresentado o ano passado.