Parlamento egípcio aprova intervenção militar na Líbia
Egipto quer impedir que a cidade de Sirte, actualmente controlada pelo marechal Haftar, seja tomada pelas forças do Governo de Trípoli apoiado pela Turquia .
O Parlamento egípcio aprovou nesta segunda-feira o envio de tropas para o estrangeiro, em missões de combate a “milícias criminosas” e “grupos terroristas” na “frente ocidental”, depois de o Presidente Abdel-Fattah al-Sissi ter dito que o país pode fazer uma intervenção militar na vizinha Líbia.
Numa sessão à porta fechada, a Câmara dos Representantes egípcia, maioritariamente ligada a Sissi, aprovou o envio de tropas para qualquer país estrangeiro para “proteger a segurança nacional”.
O Egipto está preocupado com a instabilidade na Líbia e o apoio da Turquia ao governo apoiado internacionalmente e sedeado em Trípoli, cujas forças se aproximam da cidade de Sirte, numa tentativa de a reconquistar ao Exército Nacional Líbio do marechal Khalifa Haftar.
Sissi defende que a cidade costeira é uma “linha vermelha” e avisou que qualquer ataque à cidade levará o Cairo a intervir para proteger a fronteira oeste.
Antes da decisão do Parlamento egípcio, Sissi telefonou ao seu homólogo norte-americano, Donald Trump, a quem expôs a postura das autoridades do Cairo em relação à Líbia, uma vez que quer o Egipto quer a Turquia são aliados dos Estados Unidos.
Num comunicado, a presidência egípcia indicou que Sissi explicou “a posição estratégica em relação à questão líbia com o objectivo de recuperar o equilíbrio dos componentes do Estado e conservar as suas instituições nacionais”. Sissi referiu que a intenção é “evitar uma deterioração ainda maior da situação de segurança”, bem como “as intervenções estrangeiras ilegais” na Líbia, que “podem pôr em risco a estabilidade e segurança” da região.
Os dois chefes de Estado concordaram em manter o cessar-fogo e evitar a subida da tensão na Líbia, de acordo com um comunicado do gabinete de Sissi, citado pela Al-Jazeera. Trump também esteve em contacto com o Presidente francês, Emmanuel Macron, para discutir formas de apaziguar a situação no país do Norte de África. Apesar de oficialmente Paris alinhar com a ONU no reconhecimento do Governo de Trípoli, Macron tem sido um aliado silencioso de Haftar.
A votação da autorização esteve inicialmente prevista para domingo, mas foi adiada para esta segunda-feira, e surge como uma resposta à ameaça turca, que apoia as forças de Trípoli, de avançar militarmente para Sirte (370 quilómetros a leste da capital líbia).
A Líbia, que dispõe das reservas de petróleo mais abundantes do continente africano, está a braços com um conflito entre dois poderes rivais: o Governo de Acordo Nacional (GAN), reconhecido pela ONU e cuja sede é em Trípoli, e as forças de Haftar, que reina no leste e numa parte do sul do país.
O GAN é apoiado pela Turquia, que destacou militares para o terreno, e Haftar pelo vizinho Egipto, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Rússia.
A intervenção militar turca foi considerada decisiva para o GAN, que tem rechaçado a ofensiva contra Trípoli, desencadeada em Abril de 2019, e que permitiu retomar o controlo do noroeste do território líbio.
Apelo turco
Também esta segunda-feira, a Turquia apelou para o fim imediato do apoio às forças de Haftar no final de uma reunião, em Ancara, com os ministros do Interior do GAN, Fathi Bachagha, e de Malta, Byron Camilleri.
“É indispensável interromper imediatamente todo o tipo de ajuda e de apoio ao golpista Haftar, que impede a instauração da paz, da calma, da segurança e da integridade territorial da Líbia”, declarou o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar.
“Sabemos que o maior obstáculo para alcançar esse objectivo é o golpista Haftar”, prosseguiu Akar, adiantando que Ancara vai prosseguir a colaboração com o GAN nas áreas de “formação, cooperação e aconselhamento militar”. As declarações do ministro turco surgem numa altura em que a situação no terreno está cada vez mais tensa.
No domingo, o diário estatal egípcio Al-Ahram noticiou que a votação no Parlamento se destinava a mandatar Sissi para “intervir militarmente na Líbia” para “ajudar a defender o vizinho contra a agressão turca”.
Na semana passada, no Cairo, o Presidente egípcio foi anfitrião de dezenas de líderes tribais leais a Haftar, aos quais repetiu que o Egipto “não vai ficar parado face às movimentações que constituem uma ameaça directa à segurança”.
O Parlamento líbio criado por Haftar no leste pedira a Sissi para enviar tropas.
Em Abril de 2019, as tropas de Haftar lançaram uma ofensiva militar para tomar Trípoli, que chegou aos arredores da capital, de onde foram empurradas de volta após a intervenção das forças apoiadas pela Turquia.
Mais tarde, as tropas de Tripoli retomaram o controlo do aeroporto, todos os pontos de entrada e saída da cidade, e um cordão de pequenas cidades chave na região, empurrando para leste as tropas de Haftar, tendo ainda tentado, em vão, reconquistar Sirte, tomada no início deste ano pelos rebeldes.
Se reconquistar a cidade, de onde é natural o antigo líder líbio Muammar Kadhafi, abrem-se as portas para as tropas apoiadas pela Turquia poderem avançar ainda mais para leste e retomar as instalações de exploração de petróleo, actualmente sob controlo de Haftar.