Portugal realizou o primeiro transplante renal cruzado internacional a dias do estado de emergência
Os pares implicados no transplante, realizado a 12 de Março, eram do Centro Hospitalar Universitário do Porto e da Fundación Puigvert de Barcelona. Programa de doação renal cruzada baseia-se no intercâmbio de rins de dadores vivos entre dois ou mais pares que não são compatíveis entre si.
Portugal realizou em Março o primeiro transplante renal cruzado internacional, dirigido a doentes com grandes incompatibilidades imunológicas, “uns dias antes” de ter sido declarado o Estado de Emergência devido à pandemia de covid-19, segundo Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST).
O transplante foi realizado no dia 12 Março e “os pares implicados no cruzamento, do Centro Hospitalar Universitário do Porto e da Fundación Puigvert de Barcelona, fizeram teste à covid-19, antes do cruzamento, com resultado negativo”, adianta o IPST em comunicado.
Em 2019, o programa de doação renal cruzada, dirigido a doentes com grandes incompatibilidades imunológicas, permitiu e realização de seis transplantes de dador vivo em dois ciclos de três transplantes cada um.
“Um dos marcos da doação em vida em Portugal foi a criação do Programa Nacional de Doação Renal Cruzada em 2010”, que conta com a participação de mais de 120 pares dador-receptor.
Este programa baseia-se no intercâmbio de rins de dadores vivos entre dois ou mais pares que não são compatíveis entre si. Desde o seu início, 24 doentes foram transplantados ao abrigo deste programa em cadeias de dois ou três pares.
“O transplante renal cruzado é uma modalidade terapêutica bem desenvolvida em países com elevada actividade de transplante renal de dador vivo, como é o caso da Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Estados Unidos, Holanda ou Reino Unido, que realizam este tipo de procedimentos há muito tempo com excelentes resultados”, explica o IPST.
De acordo com o instituto, o “correcto funcionamento” do programa baseia-se num registo de pares dador-receptor incompatíveis associado a um algoritmo matemático que permite ao IPST, a cada três meses, realizar combinações de pares compatíveis.
Está também sustentado num protocolo específico de actuação e uma cooperação constante com os peritos nomeados para este programa no IPST, os nefrologistas e urologistas das equipas de transplante renal, os laboratórios de histocompatibilidade e os Gabinetes Coordenadores de Colheita e Transplantação (GCCT).
“Tudo associado a um complexo processo logístico com a colaboração da Força Aérea Portuguesa e da Guarda Nacional Republicana”, sublinha.
O instituto afirma que, “ao longo do tempo o programa tem-se desenvolvido, adaptando-se à complexidade dos doentes”, tendo a sua internacionalização ocorrido ao abrigo da South Alliance for Transplants, envolvendo os pares dador-receptor de Portugal, Espanha e Itália.
“Com a internacionalização do programa pretende-se aumentar a possibilidade dos pares dador-receptor, incluídos nos registos nacional de transplante cruzado, encontrarem uma combinação adequada”, refere o instituto, salientando que “quanto mais pares dador-receptor participarem num cruzamento, maior a sua heterogeneidade genética, maiores são as opções para efectivar a doação e o intercâmbio renal”.