China ameaça retaliar contra fim do estatuto especial de Hong Kong aprovado pelos EUA
Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês advertiu que para salvaguardar os interesses do país “a China dará a resposta apropriada e imporá sanções ao pessoal e autoridades norte-americanas competentes”.
O Governo chinês considerou esta quarta-feira o decreto que põe fim ao estatuto especial de Hong Kong, assinado pelo Presidente dos Estados Unidos, como uma “grave interferência nos assuntos internos” do país e ameaçou retaliar.
Numa declaração, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês advertiu que “para salvaguardar os seus próprios interesses legítimos, a China dará a resposta apropriada e imporá sanções ao pessoal e autoridades norte-americanas competentes”.
“Pedimos aos EUA que corrijam os seus erros, evitem implementar a chamada ‘Lei de Autonomia de Hong Kong’ e parem de interferir nos assuntos internos da China, incluindo nos de Hong Kong”, salientou. “Se os Estados Unidos avançarem, não há dúvidas de que a China retaliará”, garantiu o Governo chinês, no mesmo comunicado.
Entre os visados por Pequim, escreve o South China Morning Post, podem estar os senadores Chris Van Hollen (Partido Democrata) e Patrick Toomey (Partido Republicano), responsáveis pela elaboração da chamada Lei da Autonomia.
Para Pequim, o decreto que põe fim ao estatuo especial de Hong Kong aprovado por Trump constitui “uma tentativa de os EUA obstruírem a implementação da Lei de Segurança Nacional de Hong Kong”.
O diploma foi aprovado pela Assembleia Popular Nacional da China, sem passar pelo Conselho Legislativo da região semiautónoma chinesa, e pune com prisão perpétua “actos de secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras”.
No entanto, advogados, activistas, jornalistas e grande parte da sociedade de Hong Kong manifestaram a sua oposição, por temer que a lei acabe com as liberdades desfrutadas pela antiga colónia britânica e inexistentes na China continental.
Na terça-feira, Donald Trump assinou o decreto que encerra o estatuto económico e comercial especial que os EUA concediam a Hong Kong, além de uma lei que prevê a imposição de novas sanções à China, por “extinguir a liberdade” na cidade, um centro financeiro internacional e regional.
“Hoje [terça-feira], assinei legislação e uma ordem executiva para responsabilizar a China pelas suas acções agressivas contra o povo de Hong Kong”, afirmou Donald Trump, citado pelo The Guardian. “Hong Kong vai passar a ser tratado da mesma forma que tratamos a China continental”, acrescentou.
O decreto assinado pelo Presidente norte-americano põe fim às regalias aos cidadãos com passaporte de Hong Kong, que passam a ter tratamento semelhante aos cidadãos chineses, e suspende vários acordos entre a região administrativa especial e Washington, nomeadamente ao nível da extradição, treino de polícias, exportação de armas e programas de defesa e de cooperação entre universidades e centros de investigação.
O decreto permite ainda o congelamento de propriedades e bens de estrangeiros ligados à nova lei de segurança nacional ou que estejam envolvidos em casos de violação dos direitos humanos.
No mesmo dia em que Trump assinou o decreto, o New York Times anunciou que vai mudar parte da sua equipa em Hong Kong para Seul, na Coreia do Sul, devido à “incerteza” vivida na região.
“A nova lei de segurança nacional imposta pela China em Hong Kong criou muita incerteza quanto ao que as novas regras vão significar para a nossa operação e para o nosso jornalismo”, afirmaram em comunicado os editores e membros da direcção do jornal norte-americano. “Consideramos prudente começar a fazer planos de contingência e diversificar a nossa equipa de editores na região”, acrescentaram.
A mudança irá afectar cerca de um terço da equipa do jornal em Hong Kong, sobretudo a equipa digital, e vai ocorrer durante o próximo ano. A equipa de produção para a edição internacional, assim como os correspondentes, vão continuar em Hong Kong. “Temos toda a intenção de manter e até de aumentar a nossa cobertura da transformação da cidade, bem como utilizá-la como uma janela para a China”, afirmaram os editores e directores do New York Times.