BES: lesados vão avançar com centenas de acções a exigir indemnizações a Salgado

Clientes lesados que não se constituíram assistentes do processo-crime podem fazê-lo até meados de Setembro

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Muitos lesados do BES, incluindo emigrantes, ainda não recuperaram as suas poupanças Rui Gaudencio

Mais de mil lesados do BES/GES vão apresentar centenas de acções cíveis na justiça a exigir indemnizações por danos morais às pessoas e entidades acusadas no caso BES, sobretudo a Ricardo Salgado, disse o advogado Nuno Vieira.

Esta terça-feira, o Ministério Público acusou 18 pessoas e sete empresas por vários crimes económico-financeiros e algumas das quais por associação criminosa, no âmbito do processo BES/Universo Espírito Santo, em que a figura central é o ex-banqueiro Ricardo Salgado (acusado de 65 crimes).

Nuno Vieira explicou à Lusa que os clientes lesados que não se constituíram assistentes do processo-crime têm 20 dias para o fazer após o despacho de acusação, o que, tendo em conta as férias judiciais, prolonga o prazo para meados de Setembro, ou para se constituírem demandantes cíveis.

Segundo afirmou, alguns clientes seus irão constituir-se assistentes “para auxiliar o juiz de instrução na obtenção de provas” e que entre 1300 e 1500 pessoas que representa irão constituir-se como demandantes cíveis.

Os pedidos de indemnização por danos morais serão individuais, esperando o advogado apresentar 500 a 600 pedidos na justiça em nome de 1300 a 1500 pessoas. Uma vez que havia contas bancárias em nome de várias pessoas, por cada conta é apenas colocada uma acção.

Questionado sobre quanto exigirá cada lesado, Nuno Vieira considerou que o “dano moral em Portugal é maltratado” e que não aceitará pagamentos de danos morais na ordem dos 15 mil euros por pessoa como tem acontecido noutros processos e que, para isso, vai “recorrer a inovações probatórias”.

Quanto às entidades e pessoas a que os lesados pedirão indemnizações, tal dependerá do grau de culpabilidade que em cada caso atribuem, mas Ricardo Salgado será a pessoa a quem atribuem maior grau de culpa e, logo, a quem exigirão mais indemnizações.

Os lesados que colocarão acções são emigrantes na Venezuela, França, mas também lesados do papel comercial.

Segundo explicou Nuno vieira, apesar de estes últimos terem cedido ao fundo de recuperação de créditos os direitos judiciais no caso BES (para receberem as indemnizações compensatórias), mantêm a possibilidade de exigirem indemnizações por danos morais, já que este é um direito irrenunciável.

Nuno Vieira disse ainda que, apesar de a totalidade do caso BES poder demorar muitos anos nos tribunais, a indemnização cível pode acontecer logo após a sentença em primeira instância “porque um eventual recurso dos arguidos não suspende o pagamento de indemnização”.

Inicialmente, as acções serão colocadas junto do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e assim que for deduzido o despacho de pronúncia serão distribuídas a um juiz da unidade de tribunais de Lisboa.

O Ministério Público acusou na terça-feira 18 pessoas e sete empresas por vários crimes económico-financeiros e algumas das quais por associação criminosa, no âmbito do processo BES/Universo Espírito Santo, em que a figura central é o ex-banqueiro Ricardo Salgado.

Segundo uma nota da Procuradoria-Geral da República (PGR), foi deduzida acusação por associação criminosa e por corrupção activa e passiva no sector privado, de falsificação de documentos, de infidelidade, de manipulação de mercado, de branqueamento e de burla qualificada contra direitos patrimoniais de pessoas singulares e colectivas.

Em causa nesta complexa investigação do DCIAP “está um valor superior a 11.800 milhões de euros”, em consequência dos crimes imputados, e prejuízos causados.

A PGR refere também que o processo principal BES/GES “agrega 242 inquéritos que foram sendo apensados, abrangendo queixas deduzidas por mais de 300 pessoas, singulares e colectivas, residentes em Portugal e no estrangeiro”.

Foram accionadas medidas de garantia patrimonial por via de arrestos e apreensões.

Já a defesa de Ricardo Salgado considerou que a acusação “falsifica” a história do BES, sublinhando que o antigo banqueiro “não praticou qualquer crime” e que enquanto “esteve no BES não houve lesados”.