FC Porto, um campeão em fim de ciclo?
Nove dos 14 jogadores mais utilizados pelos portistas têm apenas mais um ou dois anos de contrato, colocando uma mão cheia de figuras “azuis e brancas” na porta de saída do Dragão.
Numa era em que chegou a ser anunciado o início de uma hegemonia no futebol português por parte do Benfica, Sérgio Conceição assegurou nesta quinta-feira a proeza de conquistar o seu segundo título nacional em três anos como treinador do FC Porto. Porém, se o técnico iniciar a quarta temporada consecutiva como líder dos “dragões”, registo que apenas Jesualdo Ferreira atingiu neste século, o mais provável é ter que recomeçar praticamente tudo do zero: nove dos 14 jogadores mais utilizados pelos portistas têm apenas mais um ou dois anos de contrato, colocando uma mão cheia de figuras “azuis e brancas” na porta de saída do Dragão.
Quando, a 8 de Junho de 2017, Sérgio Conceição foi oficializado como o 68.º treinador da história do FC Porto, muitos portistas olharam com cepticismo para a aposta do Pinto da Costa. Pouco menos de um mês antes, o Benfica tinha festejado um inédito tetra e com os portistas manietados pelas regras do fair play financeiro impostas pela UEFA, o cenário para Conceição apresentava-se sombrio.
Sem euros disponíveis para investir na reconstrução de um plantel desacreditado por um ciclo negativo a que os portistas já não estavam habituados, o FC Porto tinha acabado de perder o seu goleador (André Silva), um dos principais desequilibradores (Diogo Jota) e a maior promessa (Ruben Neves) e, sem soluções exteriores para resolver a crise desportiva, Sérgio Conceição socorreu-se do que tinha disponível em casa, fazendo regressar de empréstimo meia dúzia de jogadores que até aí não tinham lugar no Dragão.
Três anos depois, a possibilidade de o FC Porto necessitar de reconstruir um “onze” afigura-se como provável. Após perder no final da temporada passada a “custo zero” dois dos seus mais influentes jogadores (Herrera e Brahimi), a SAD “azul e branca”, que volta a estar sob o fantasma do fair play financeiro, irá deparar-se com dilema: o que fazer com nove dos 14 jogadores mais utilizados esta época por Sérgio Conceição que têm apenas mais um ou dois anos de contrato?
Fazendo uma análise sector a sector, a baliza é o único que parece garantir estabilidade aos “dragões” na próxima temporada: Marchesín e Diogo Costa deverão continuar a lutar pela posição na baliza dos portuenses.
Na defesa, o FC Porto teve ao longo de toda a época um problema do lado direito, que foi sendo disfarçado pela adaptação de Corona, mas a excelente época do mexicano, que tem contrato por mais ano e meio, coloca-o como um dos principais activos e as palavras recentes do seu empresário não terão sido bem recebidas no Dragão: “Está preparado para o passo seguinte e quer ter novos desafios.”
Se Corona mostrou-se esta época num patamar superior ao que vinha mostrando em Portugal, Alex Telles manteve o nível de excelência. Com mais um ano de contrato, o brasileiro tem mercado nos principais campeonatos europeus e a sua saída do FC Porto parece uma inevitabilidade. Ainda na defesa, Diogo Leite, apesar de pouco utilizado (sete jogos na I Liga), é alvo da cobiça do Valência, que continua a apostar em jovens promessas portuguesas.
Tal como Telles, o vínculo de Otávio ao FC Porto termina em Junho de 2021 e as negociações para a renovação com o brasileiro, segundo o seu agente, “não correram muito bem”. Para evitar perder mais um jogador a “custo zero”, a SAD portista terá que negociar neste Verão. Tal como Otávio, Sérgio Oliveira também termina contrato em Junho de 2021, mas as possibilidades de surgir um entendimento entre ambas as partes é mais realista.
Embora numa posição diferente de Otávio e Oliveira, Danilo, que tem contrato até 2022, é mais um problema para os dirigentes do FC Porto. A relação do capitão com treinador e estrutura portista deteriorou-se ao longo da época e não será surpresa se o internacional português também abandonar o clube.
Finalmente, na frente, há um trio de problemas no ataque. Marega, Soares e Aboubakar estão a apenas seis meses de ficarem livres para assinarem um pré-contrato com qualquer outro clube, o que deixa os “dragões” com pouca margem de manobra, sabendo-se que no passado o maliano e o brasileiro já mostraram vontade de deixar o Dragão.