Subida de casos na Florida põe em causa estratégia de reabertura da economia de Trump
No domingo, o estado teve mais de 15 mil novos casos de infecção. Há receio de que os hospitais em Miami esgotem a sua capacidade para receber pacientes graves. Trump ataca Faucci: “Cometeu muitos erros”
Se fosse um país, a Florida teria tido o quarto maior crescimento do número de infecções por covid-19 a nível mundial num só dia. O estado registou mais de 15 mil casos no domingo, um recorde nos EUA desde o início da pandemia que vem pôr em causa a estratégia de reabertura da economia, defendida pelo Presidente Donald Trump e por vários governadores republicanos.
Esta segunda-feira, o crescimento do número de casos foi menos agudo (12 mil), mas traduz uma tendência de disparo acentuado do número de contágios que se tem verificado na Florida desde que lojas, ginásios, restaurantes, bares e hotéis reabriram. Ao todo, o estado regista mais de 282 mil infecções, dos quais 69 mil foram detectados apenas na semana passada. No mesmo período, o número de mortes também subiu, com uma média de 73 por dia.
Um dos principais receios é a pressão sobre os hospitais. No condado de Miami-Dade, onde há mais casos, mais de 90% das camas em unidades de cuidados intensivos já estão ocupadas, disse à CNN o presidente da Câmara, Carlos Gimenez. Há também relatos de falta de equipamento de protecção para profissionais de saúde.
A nível nacional, os EUA registam mais de 3,4 milhões e mais de 137 mil mortes causadas pela covid-19. Os dados dos testes mostram que 1% da população dos EUA já contraiu o vírus em alguma altura desde que a pandemia chegou ao país.
O epicentro da pandemia nos EUA está a mudar. Se no início era o Nordeste que concentrava mais atenções, hoje é no Sul que o novo coronavírus mais se espalha. Depois de ser o centro global das infecções, Nova Iorque registou no sábado o primeiro dia sem mortes por covid-19 desde 11 de Março, de acordo com as autoridades municipais de saúde.
O novo debate que anima o mundo político é sobre a reabertura das escolas. Trump tem dito que pretende o regresso dos estudantes às salas de aula no Outono, mas a Administração não tem apresentado qualquer plano para que o processo ocorra dentro das normas de segurança.
Num cenário que se espera caótico, os distritos escolares têm adoptado modalidades diferentes: alguns vão adiar o início das aulas, outros vão ter uma primeira fase de ensino remoto. Trump chegou a ameaçar cortar o financiamento das escolas que não reabram em Setembro, embora essa seja uma competência do Congresso.
Ataques a Fauci
Com a propagação da pandemia a todo o vapor, Trump não tem dado tréguas ao principal coordenador da resposta à crise na Casa Branca, o epidemiologista Anthony Fauci, que, inadvertidamente, se tornou num símbolo da ineficácia do Presidente na gestão da covid-19.
A convivência entre os dois está num dos pontos mais baixos desde que o médico ganhou notoriedade, no início de Março. Segundo a CNN, Trump e Fauci não falam um com o outro há semanas, e nos últimos dias vários elementos da Casa Branca têm atacado o director do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, sugerindo que existe um esforço concertado para minar a sua posição.
Esta segunda-feira, Trump partilhou um vídeo no Twitter com acusações de que o Centro de Prevenção e Controlo de Doenças mente em relação à covid-19. Antes, numa entrevista à Fox News, o Presidente tinha dito que Fauci “cometeu muitos erros”. Um funcionário da Casa Branca disse à CNN que há uma preocupação na Administração “com o número de vezes que Fauci tem estado errado” sobre a evolução da pandemia.
A intensificação da campanha contra Fauci parece ser uma resposta às críticas que o epidemiologista tem feito à estratégia de reabertura da economia encorajada pelo Governo federal. No entanto, poucos arriscam um cenário de demissão dada a elevada popularidade do médico e a boa imagem que congressistas dos dois partidos têm dele.