Duda vence segunda volta das presidenciais da Polónia
Resultados divulgados esta segunda-feira pela Comissão de Eleições polaca mostram que o Presidente recolheu 51,2% dos votos.
As eleições mais importantes para o futuro da Polónia foram também as mais renhidas dos últimos anos. O Presidente polaco, Andrzej Duda, é dado como vencedor da segunda volta das presidenciais polacas deste domingo, com 51,2% dos votos, de acordo com dados da Comissão de Eleições polaca.
dados, avançados na manhã desta segunda-feira, reúnem 99,97% dos locais de voto, sendo que a vitória desta segunda volta já não deverá escapar a Andrzej Duda. O seu rival, Rafal Trzaskowski, da Plataforma Cívica, ficou muito pouco atrás, com 48,8% dos votos.
Trzaskowski ganhou dois milhões de votos em relação à primeira volta, dizem Piotr Buras e Pawel Zerka, do Conselho Europeu de Relações Internacionais, numa análise citada pelo Guardian. É significativo que Duda não tenha conseguido uma vitória clara, apesar de nestas duas semanas ter tido o apoio dos media estatais e ter lançado ataques brutais contra o seu opositor, dizem os analistas.
Têm surgido preocupações de muitos polacos no estrangeiro por não terem podido votar, dado os atrasos na chegada dos boletins de voto às suas casas – na primeira volta, 15 mil polacos não votaram por este motivo.
“A olhar para a sondagem à boca das urnas das eleições polacas, há menos de 150 mil votos entre os dois candidatos. A presidência vai ser decidida pelos eleitores no estrangeiro, incluindo os 183 mil polacos no Reino Unido? É bem possível”, escreveu no Twitter o jornalista polaco Jakub Krupa.
No entanto, se se confirmar a vitória do Presidente, e se não for contestada por Trzaskowski, que é presidente da Câmara de Varsóvia, Duda cumprirá um segundo mandato de cinco anos como chefe de Estado na Polónia. O Partido Lei e Justiça (PiS), seu aliado, não terá qualquer obstáculo para avançar com a sua agenda ultraconservadora e de transformação dos sistemas político e judicial, que já foi alvo de críticas e de três investigações da União Europeia.
Mas se a situação mudar e Trzaskowski vencer as eleições, o PiS terá um adversário na presidência polaca, ao ter direito de veto sobre as leis, o que lhe permitirá impedir que importantes reformas políticas e judiciais do partido avancem. É que o PiS não tem a maioria parlamentar de três quintos para rever um veto presidencial, vendo-se obrigado a esperar até às legislativas de 2023 para alterar a situação nas urnas.
Por agora, sabe-se apenas que a noite será longa e que poderá pender para qualquer um dos lados. “Vamos acordar numa Polónia completamente diferente”, disse Trzaskowski perante os seus apoiantes no centro de Varsóvia, perto do rio Vístula, num ambiente que a correspondente da revista The Economist descreve como sendo de um festival de Verão.
A participação eleitoral deste domingo cifrou-se nos 68,9%, de acordo com a estimativa do centro de sondagens Ipsos. É a participação mais elevada desde o fim do regime comunista no país, em 1989, em qualquer eleição (presidencial, legislativa ou local) e está a ser encarado como forte sinal de que o eleitorado percebeu o que estava em jogo.
A participação foi até superior à registada na primeira volta (64,5%), quando se apresentaram 11 candidatos à presidência. As sondagens davam conta de uma segunda volta muito renhida entre Duda e Trzaskowski e começou a olhar-se com grande curiosidade para os cerca de 1,3 milhões de polacos que votaram em Krzysztof Bosak (6,8%), da Confederação, uma coligação de extrema-direita anti-semita, pró-Rússia e anti-EUA. Ou seja, se iriam votar em Duda, mais próximo ideologicamente mas que sempre apontou baterias à coligação, ou se iriam permanecer em casa, ou até, ainda que em pequeno número, votar em Trzaskowski.
Duda percebeu a importância do eleitorado da Confederação e na campanha eleitoral para a segunda volta apostou forte num discurso contra os direitos das minorias sexuais, à semelhança da primeira volta, apesar de ter momentaneamente recuado, acusando a imprensa de distorcer as suas palavras. Focou-se na sua imagem como responsável pela melhoria da economia e defensor dos “valores da família”, criticando duramente as minorias sexuais.
Essa estratégia parece ter surtido os seus efeitos nas zonas mais rurais, fundamentais para Duda, e as que tradicionalmente mais votam no PiS. Muitos eleitores justificaram a sua opção eleitoral por causa desse discurso. “O mais impressionante quando falei hoje com eleitores do PiS em pequenas cidades: grande avanço da campanha de Duda por causa da hostilidade aos direitos LGBT. Tendia a ser a primeira coisa com a qual os seus apoiantes procuravam o seu voto”, escreveu no Twitter Christian Davies, correspondente do Guardian na Polónia.