Critérios para escolher a dieta ideal
Num tempo em que as dietas e as modas alimentares andam literal e simbolicamente na boca de todos, voltar a reflectir sobre a tendência, que parece tão comum, de nos tornarmos apologistas de estilos alimentares com muitos seguidores, continua a vir a propósito.
Ne quid nimis (do latim, nada em excesso, o que é de mais é prejudicial) é um dos princípios beneditinos que se aplica também à alimentação e que nos remete para a chave da mensura, da discrição, da ponderação, do equilíbrio, da frugalidade — aspectos, aliás, em total sintonia com, por exemplo, a alimentação mediterrânica e o estilo alimentar de quem se nutre do tempo para saborear.
Num tempo em que as dietas e as modas alimentares andam literal e simbolicamente na boca de todos, voltar a reflectir sobre a tendência, que parece tão comum, de nos tornarmos apologistas de estilos alimentares com muitos seguidores, continua a vir a propósito.
De facto, a alimentação, sendo um aspecto tão basilar e comum de todos, é também temática de interesses e fragilidades vários. O nosso modo de comer transpõe muito do que somos, ao mesmo tempo que o constrói (ou destrói). É fácil termos, pela alimentação, espaços de procura (de respostas, de satisfação, de sentidos). Sendo tão estrutural, a alimentação ajuda-nos, por exemplo, a pontuar o dia, a marcar os momentos e a distinguir significados. “Depois do almoço”, “depois do jantar”, “na esplanada” são algumas das marcações temporais e espaciais ilustradas também pela alimentação.
Com e por isto (também), o que comemos tem dimensões, conotações, significados e funções muito para além da tabela de composição nutricional. Deste modo, quando sentimos precisar de menos/mais peso, de mais bem-estar, de menos/mais sonolência, de um melhor estado de saúde, ou de mais força muscular por exemplo, procurar as dietas (ou simplesmente não procurar, mas sermos por elas encontrados) preenche os espaços de necessidade de mudança que sentimos.
Contudo, na transcomplexidade das funções da alimentação vale analisar a dieta, o conselho, a estratégia ou simplesmente o alimento a incluir ou retirar da alimentação, com algum critério. Os impactos do que e de como decidimos comer são pessoais (na saúde, no bem-estar e na identidade de cada um), são relacionais (pelo que nos abre ou fecha às relações, pelas barreiras que deixa cair ou que ergue), são sociais (pelo que escolhemos financiar, promover, apoiar, perpetuar ou, pelo contrário, deixar perder, não alimentar, não ser cúmplice), são ambientais (pela origem, pelos modos de produção/preparação/confecção, pelo transporte, pelo embalamento, pela genética, pelas múltiplas pegadas e heranças), são múltiplos. E quando de dieta falamos, há que parar para identificar o que procuramos, onde e como pretendemos chegar, porquê e para quê. E sempre que estas respostas tiverem uma intenção de perpetuação no tempo, então, é momento de pensar que a dieta ideal é aquela que me permitirá manter resultados. A dieta ideal é a que for sustentável no estilo de vida que pretendo, sustentável pelos hábitos, pelos gostos, pela identidade, mas sustentável também económica e ambientalmente para mim, os meus, a sociedade e o planeta. Para todos.
Todas as dietas, “filosofias” ou estilos alimentares que não me imagine a praticar nesta sustentabilidade do tempo, então não são as ideais para mim. Nesse caso, vale a pena repensar! Olhar os critérios, analisar, procurar as respostas e escolher a alimentação que me nutra, no sentido mais profundo do seu significado. Procurar a alimentação sem dietas, mas a minha díaita (do grego, dieta, regime alimentar), a que me ajuda a viver.