Autarca de Reguengos diz não ter sabido que municípios espanhóis pediram o encerramento da fronteira

Autarcas espanhóis admitem que a fronteira foi aberta numa altura em que se registava a progressão de surtos infecciosos no Alentejo.

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LUSA/NUNO VEIGA

Os municípios da Extremadura espanhola de Villanueva del Fresno e Valencia del Mombuey solicitaram, através de carta enviada ao delegado do Governo de Espanha, Yolanda García Seco, o encerramento da fronteira com Portugal, ao que tudo indica para prevenir contágios que o surto pandémico de Reguengos de Monsaraz possa vir a provocar no país vizinho. Autarca português diz não ter sido informado e argumenta que surto está controlado.

A carta refere, a dado passo, que se iniciem “com urgência os procedimentos para o encerramento das passagens de fronteira” que fazem a ligação entre os concelhos portugueses de Mourão - vizinho de Villanueva del Fresno - e de Moura - Valencia del Mombuey. Os autarcas extremenhos, Ramón Díaz Farías (Villanueva) e Manuel Naharro Gata (Valencia) pretendem que a transposição fronteiriça seja apenas concedida aos trabalhadores que exercem a sua actividade nos concelhos da raia, “até que seja estabelecido um protocolo transfronteiriço para o controle da covid-19 nas áreas limítrofes.”

Solicitam ainda que serviços de saúde de Espanha elaborem um “protocolo de saúde pública transfronteiriça, para além da adopção das medidas que se considerem necessárias para o controle e isolamento da covid-19”.

Na carta a que o PÚBLICO teve acesso, os autarcas referem que a decisão que tomaram está directamente relacionada com o surgimento de “diferentes surtos e casos positivos em ambos os lados da fronteira”, propondo se necessário a monitorização da saúde pública nos locais onde o surto revele maior incidência.  

E realçam um pormenor: a fronteira com Villanueva del Fresno é um ponto onde muitos residentes de Badajoz se cruzam a caminho das praias de Huelva. Para evitar as curvas da estrada nacional - 435 e os congestionamentos de tráfego que se observam nesta altura do ano em Sevilha, uma das rotas preferidas passa por entrar em Portugal pela EN 256 que atravessa Reguengos de Monsaraz, seguir depois pelo troço do IP-2 que atravessa Évora, Portel, Vidigueira, Beja e seguir pelo IP-8 para regressar a território espanhol em Rosal de la Frontera, já na província de Huelva.

Os autarcas espanhóis justificam a sua posição alegando que, em tempo de pandemia, “o mais importante é a luta contra o inimigo comum que não conhece fronteiras”, acrescentando que a covid-19 “pode tirar proveito de certas lacunas deixadas pelas administrações nessas áreas de fronteira”.  

E contrastam a situação fronteiriça com o que se passa em diferentes partes da Espanha, “onde os surtos são constantes e obrigam as autoridades a tomar medidas para restringir o movimento nas regiões afectadas”, acentuam. Concluem a sua posição pública com uma crítica à abertura da fronteira entre os dois países ibéricos, frisando que o passo dado na normalização da mobilidade entre os dois países não terá tomado em devida conta que o coronovírus “a qualquer momento pode mudar nossas vidas novamente”.

O autarca de Reguengos de Monsaraz, José Calixto, diz que não foi contactado pelos colegas espanhóis a dar conta do seu propósito de solicitar às autoridades do país vizinho o encerramento da fronteira. E lembra que no seu concelho “não há um surto de contágio descontrolado” e que ao longo dos últimos dias “não se verificou a existência de qualquer caso conhecido que não estivesse confinado na comunidade.”

Comparando a decisão dos autarcas espanhóis com a posição anteriormente assumida pelos colegas portugueses, o autarca recorda que “quando tivemos notícia de uma série bastante grande de casos infectados com a covid-19 sempre acreditámos nas capacidades das autoridades de saúde pública espanholas” que estão envolvidas no combate à pandemia.

“Os nossos colegas espanhóis certamente que necessitarão de mais alguma informação para que possam transmitir posições mais tranquilas sobre o contágio” que poderá estar a atravessar a fronteira, conclui José Calixto.

Valencia del Mombuey que faz fronteira com a freguesia de Amareleja registou esta semana o primeiro caso de contágio com a Covid-19. Na localidade portuguesa e no mesmo período foram detectados dois casos positivos.

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