Porto
A bicicleta de Carmen é uma galeria de ilustrações
Apaixonada pela ilustração desde criança, Carmen Costa inspirou-se na artista Luciana Bastos para começar a expôr a sua arte numa bicicleta.
Carmen Costa pode ser encontrada nas ruas do Porto, a um sábado à tarde. Mas Carmen nunca está sozinha. Desde Março de 2018 que tem sempre consigo uma fiel companheira — a sua bicicleta, que não é apenas um meio de transporte para a levar do ponto A ao ponto B. É, sim, um expositor da sua arte, nas ruas de Cedofeita e das Flores.
“É a típica história”, conta Carmen, de 30 anos, ao P3. “Eu era a criança que já desenhava nas paredes”, recorda a ilustradora desde sempre fascinada pelos filmes da Disney, “os desenhos animados em movimento”. A menina de Rio Tinto cresceu. Incentivada pela mãe depois de estudar Ciências no secundário, ingressou na Faculdade de Belas Artes do Porto, no curso de Artes Plásticas. “Queria muito fazer animação”, confessa. E foi assim que seguiu para o mestrado em Ilustração e Animação no Instituto Politécnico do Cávado e do Ave.
No fim da aventura académica, começou um outro capítulo: Carmen e os amigos montaram o PudimStudio, um atelier de animação, ilustração e artes plásticas, e começaram a expor em mercados. “Mas, para além de os mercados serem escassos, não têm um rendimento assim tão grande”, explica. Um dia, um amigo sugeriu-lhe: “Vem para a rua das Flores”. E Carmen passaria a expor nas ruas, nas grades dos cafés fechados da cidade, o que muitas vezes a obrigava a esperar pelo encerramento dos estabelecimentos.
A bicicleta viria a mudar o modo de exposição das ilustrações. E foi Luciana Bastos, um espírito livre que também expõe a arte na bicicleta, que a inspirou. “Lembro-me de a ver a passar com a bicicleta, no mercado de ilustração de Cedofeita”, relembra. A ideia apelou-lhe. Em Março de 2018, comprou a bicicleta; em Junho, já vendia ilustrações — não nas paredes, mas em duas rodas.
Os desenhos de Carmen “têm sempre a ver com a interpretação, as memórias, os jardins, a natureza, as montanhas”. Começam muitas vezes com a aguarela, mas vão avançando, ganhando outros contornos. Carmen tem também ilustrações ligadas às palavras ou ao urban sketching, que tanto gosta de fazer quando viaja, e sonha com novos projectos. “Adoraria projectar uma animação na bicicleta ou fazer uma exposição de um só tema.”
Até lá, é continuar a pedalar. Especialmente agora que, com o desconfinamento, se habituou a pedalar de Rio Tinto até ao Porto, já que os comboios deixaram de permitir o transporte de bicicletas. É uma longa viagem, mas por vezes “é bonita” e transmite à artista uma sensação libertadora.
Texto editado por Ana Maria Henriques