Neeleman aceita 55 milhões para sair da TAP, mas Estado quer garantia da Azul
Acordo com Neeleman depende de que accionistas da Azul renunciem ao direito de converter obrigações em acções da TAP. Nacionalização não está excluída.
Os accionistas da TAP já se puseram de acordo quanto à saída de David Neeleman do capital, por 55 milhões de euros, mas o Estado não abdica de que a Azul, empresa que é obrigacionista da transportadora, renuncie ao direito de converter em acções o empréstimo de 90 milhões, feito em 2016.
Assim, segundo informação recolhida pelo PÚBLICO, a solução para fazer chegar à TAP a ajuda de emergência de 1200 milhões de euros sem uma nacionalização (mas com uma reconfiguração de capital em que o Estado é maioritário e Humberto Pedrosa fica como minoritário) depende não só do acordo de Neeleman, mas daquilo que os accionistas da Azul, que é obrigacionista da TAP, decidam.
“O Estado está intransigente e não vai dar um passo atrás”, disse ao PÚBLICO fonte próxima das negociações. “A situação entre os accionistas está resolvida, mas só terá efeito se houver a garantia da Azul de que renuncia à conversão”.
O prazo é curto, atendendo a que o primeiro-ministro, António Costa, já disse esta quarta-feira que “hoje será o dia para a solução para a TAP" - e que espera que seja uma solução “negociada com os sócios privados” - e que no capital da Azul estão, além de Neeleman e da United Airlines, fundos de investimento internacionais, geralmente pouco sensíveis às urgências de Estados soberanos.
Se o Estado chegou a pretender que a Azul convertesse em capital os 90 milhões de euros que emprestou à TAP, para ajudar à capitalização da empresa, hoje a postura é bem diferente – é a de cortar definitivamente os laços com essa companhia ligada a David Neeleman quando o empréstimo obrigacionista atingir a maturidade.
A emissão obrigacionista de 120 milhões – de que o Estado subscreveu 30 milhões de euros – vence em 2026 e o Governo quer garantir que, daqui a uns anos, se por acaso a TAP estiver em melhor situação financeira, não acaba preso a parceiros indesejados.
Na informação enviada pela Azul ao regulador do mercado de capitais norte-americano – está cotada nas bolsas de Nova Iorque e São Paulo – a companhia aérea fundada por David Neeleman nota que, a suceder, a conversão das obrigações em acções lhe garantirá uma posição de 6% na TAP e 41,25% dos dividendos que eventualmente venham a ser distribuídos.
Hoje, o Estado tem 50% da TAP, enquanto o consórcio Atlantic Gateway, formado por David Neeleman e Humberto Pedrosa, tem 45%. Os outros 5% estão nas mãos de trabalhadores da empresa.
No figurino agora acordado, e que depende da posição da Azul, o Estado poderia ficar com 70% da empresa, Pedrosa com 25%, mantendo os trabalhadores os actuais 5%.