Negociante de arte francês acusado de fraude na venda de relíquias pilhadas no Médio Oriente

Christophe Kunicki, proeminente egiptólogo, bem como o seu marido e colaborador, Richard Sampaire, terão lucrado dezenas de milhões de euros com a venda de relíquias pilhadas durante a instabilidade provocada pela Primavera Árabe.

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A investigação foi iniciada após a venda ao Metropolitan Museum of Art do sarcófago de Nedjemankh, que acabaria por ser repatriado em 2019 para o Egipto Kellen Anna-Marie/Metropolitan Museum of Art

O mercado de arte francês entrou em sobressalto a semana passada, quando cinco pessoas, nomes de destaque no meio, foram detidas por suspeitas de roubo de antiguidades do Médio Oriente e norte de África, com as acusações a incluírem ainda fraude, falsificação e lavagem de dinheiro. Christophe Kunicki, proeminente egiptólogo, especialista em arqueologia do Mediterrâneo, bem como o seu marido e colaborador, Richard Sampaire, acabaram mesmo sujeitos a acusação formal pela justiça francesa. Foram libertados sexta-feira, mas serão mantidos sobre supervisão judicial.

A investigação, iniciada em 2018 pelo departamento da polícia francesa dedicada à luta contra o tráfico de bens culturais, revelou a pilhagem de centenas de artefactos culturais do Egipto, Iémen, Síria e do território líbio ocupado pelo Daesh, aproveitando a instabilidade política e social vivida durante a Primavera Árabe e no seu rescaldo. Os bens culturais terão resultado em vendas de dezenas de milhões de euros. Os outros detidos, identificados pelo Telegraph como sendo o director da leiloeira Pierre Bergé, Antoine G., o negociante de antiguidades David Ghezelbash e uma antiga curadora do Louvre, Annie Caubet, foram libertados sem acusação.

Kunicki levantou as suspeitas da polícia francesa após a venda ao Metropolitan de Nova Iorque, em 2017, de um sarcófago egípcio — Kunicki recebeu 3,5 milhões de euros pela relíquia. O ano passado, o sarcófago dourado do sacerdote Nedjemankh, que chegou mesmo a ser a peça central de uma exposição no museu, foi devolvido ao Egipto, depois de o museu ter recebido comprovadas informações de que o seu certificado de proveniência fora forjado, tendo a sua posse sido resultado de pilhagem durante a turbulência vivida no Egipto em 2011, quando da queda do Presidente Hosni Mubarak. À época, Christophe Kunicki confirmou ao Art Newspaper a venda por 3,5 milhões de euros, mas defendeu ter na sua posse documentos que comprovavam a origem legítima da aquisição.

A investigação em curso centra-se no apuramento da responsabilidade que os detidos teriam na falsificação dos certificados de origem, em articulação com intermediários nos países de onde os artefactos são originários. A polícia francesa acredita que as falsificações tenham permitido a venda de centenas de relíquias, quer a individuais, quer a instituições como o Louvre Abu Dhabi ou o referido Metropolitan.

Este sábado, o advogado de um dos investigados afirmava ao Art Newspaper que, “apesar de os negociantes de arte não serem, porventura, diligentes o suficiente [no assegurar da proveniência lícita das suas aquisições], o problema é que os verdadeiros perpetradores [do crime], os traficantes ligados a gangues armados no Médio Oriente, não estão a ser processados judicialmente, nem os museus que compraram artefactos durante décadas sem mostrarem o zelo devido”.

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