No melhor dos cenários, o mundo só volta à normalidade daqui a dois ou três anos, diz Guterres
Cenário mais optimista do secretário-geral das Nações Unidas implica uma resposta coordenada dos países desenvolvidos. António Guterres acredita também que a OMS não tentou ajudar a China a “esconder a realidade”.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, acredita que, no cenário mais optimista, em que os países desenvolvidos conseguem organizar-se e impedir segundas vagas da pandemia, o mundo só regressará à normalidade daqui a dois ou três anos.
Na pior das hipóteses, a falta de resposta coordenada, resultaria num “desastre para o hemisfério sul e geraria uma segunda onda no norte com consequências económicas terríveis” e uma “depressão global de cinco a sete anos”.
Numa entrevista publicada na edição deste sábado do jornal El País, António Guterres refere estar convencido de que, em algum momento, terá de se investigar a origem da pandemia de covid-19, a forma como se espalhou tão rapidamente e como a Organização Mundial de Saúde (OMS), os países e outras entidades responderam.
Guterres entende que, ainda que a OMS possa ter cometido alguns erros no início da pandemia, não tentou ajudar a China a “esconder a realidade”.
“O que posso dizer é que conheço as pessoas da OMS e elas não estão a ser controladas por nenhum país. Actuaram sempre de boa-fé para obter a melhor cooperação possível dos Estados membros”, refere o secretário-geral da ONU.
António Guterres admite que podem ter acontecido alguns erros, mas afirma não acreditar que a OMS tenha tentado ajudar a China a esconder a realidade.
“Acho que a Organização queria ter um bom relacionamento com a China no início da pandemia. Queria garantir que a China cooperava”, realça.
Na entrevista conjunta a três jornais europeus (Die Welt, La Tribune de Genève e El País), António Guterres destaca que “a relação entre Estados Unidos, China e Rússia está mais disfuncional do que nunca” e confere à UE um papel vital para evitar uma ordem mundial dominada por Washington e Pequim.
“Precisamos de uma liderança global, porque se assim não for, não podemos responder de forma efectiva a desafios como os de uma pandemia. Mas infelizmente, onde há poder, não há liderança, e onde há liderança, falta poder”, assinala ainda nesta entrevista o secretário-geral da ONU.