Somos todos agentes de saúde pública
Perante o ruído da desinformação, recordo alguns factos: não existe vacina disponível, o vírus também afecta a saúde dos mais novos e mesmo que o jovem fique infectado e sem sintomas pode transmitir a doença a um amigo e familiar com consequências trágicas.
“Nenhum homem é uma ilha.” A célebre frase de John Dome mantém pertinência ao longo dos tempos e parece-me particularmente certeira na pandemia de covid-19.
Estamos, quer queiramos quer não, interligados. O comportamento de cada um, mesmo naqueles actos que parecem insignificantes, tem um profundo impacto na comunidade. Antes de me referir ao cenário actual, convém recordar o caminho percorrido.
A resposta portuguesa ao vírus SARS-COV-2 foi considerada um dos bons exemplos a seguir. Vários factores contribuíram de forma positiva, entre os quais o espírito de missão dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde, o alerta prévio de outros países, o consenso político e a deliberada pedagogia dos média.
Mesmo antes do estado de emergência, o comportamento da maioria das famílias foi instrumental. A regra “fique em casa” era simples e sem grande margem para dúvidas. Mas com o desconfinamento foi introduzida complexidade às rotinas.
Já não estamos limitados às quatro paredes do lar, mas também não regressámos à dita normalidade pré-covid. Muitos têm facilidade em aceitar esta realidade, mas outros resistem à mudança.
Neste último grupo parecem estar incluídos os mais jovens. A comunicação social tem noticiado a realização de festas com centenas de participantes e o número de novos casos entre os jovens quase duplicou desde o desconfinamento. Bem sei que as generalizações podem ser injustas e o discurso moralista não é pedagógico. Não obstante, este é um momento importante no controlo da doença e os mais novos não podem estar alheados da realidade.
Perante o ruído da desinformação, recordo alguns factos: não existe vacina disponível, o vírus também afecta a saúde dos mais novos e mesmo que o jovem fique infectado e sem sintomas pode transmitir a doença a um amigo e familiar com consequências trágicas.
Acrescento mais um argumento: a imagem pública dos mais novos é um activo importante a preservar — recordo as manifestações pela defesa do ambiente — mas que pode desaparecer e ser substituída por alguma hostilidade se voltarmos ao confinamento por causa de encontros evitáveis.
Mas eu quero acreditar que a maioria dos jovens percebe que 2020 é um ano histórico e que ainda vamos a tempo de evitar cenários dramáticos. Se todos seguirmos os conselhos da DGS, podemos ter um Verão simultaneamente seguro e positivo.
Vamos, portanto, manter a distância de segurança, evitar ajuntamentos, usar correctamente a máscara e cumprir as regras de higiene e de etiqueta respiratória. Todos nós, independentemente da idade, somos um agente de saúde pública.