EUA classificam media chineses como “missões estrangeiras”

São já nove os órgãos de comunicação chineses que têm de cumprir as regras e os regulamentos que se aplicam às missões diplomáticas.

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Media chineses terão de entregar uma lista com o nome dos seus trabalhadores ao Departamento de Estado JOSHUA ROBERTS/Reuters

A Administração Trump anunciou na segunda-feira que vai designar quatro órgãos de comunicação social chineses como “missões estrangeiras”, argumentando que estes estão ao serviço da propaganda do Governo chinês.

Segundo fontes oficiais do Departamento de Estado norte-americano, refere o The  New York Times, os quatro media chineses terão agora de entregar uma lista com o nome de todos os seus trabalhadores nos Estados Unidos, bem como a lista dos seus bens no país.

Entre as organizações visadas pelo Governo norte-americano estão os jornais Diário do Povo (People's Daily) e Global Times, a televisão China Central Television (CCTV) e a agência China News Service. Ainda não é certo quantos jornalistas serão abrangidos pela medida. 

“Essas entidades não são organizações noticiosas independentes. São efectivamente controladas pelo Partido Comunista chinês”, afirmou David Stilwell, secretário de Estado Adjunto para a Ásia Oriental e Pacífico, numa conferência de imprensa. 

“A nossa acção vai aumentar a transparência no controlo da informação, não só entre os meios de propaganda estatais, mas também entre jornalistas e organizações legítimas na China (...) trata-se de entender o que está a acontecer dentro do nosso país. Somos uma Nação livre”, justificou.

Esta é a segunda vez que os Estados Unidos designam órgãos de comunicação social chineses como entidades estrangeiras, o que faz com que estes tenham de cumprir as regras e os regulamentos que se aplicam às missões diplomáticas. 

Em Fevereiro, recorde-se, cinco meios de comunicação social, incluindo a agência Xinhua e a televisão estatal CGTN, passaram a precisar da aprovação do Departamento de Estado para trabalhar nos EUA. No mesmo dia em que foi anunciada esta medida, a China expulsou jornalistas do Wall Street Journal de Pequim devido a um artigo sobre a resposta chinesa ao início do surto de covid-19 que considerou “racista e difamatório”.

Algumas semanas depois, os Estados Unidos limitaram o número de correspondentes chineses ligados a órgãos de comunicação social controlados pelo Partido Comunista chinês. Pequim respondeu e revogou as credenciais de 13 correspondes norte-americanos na China, incluindo jornalistas do New York Times, do Wall Street Journal e do Washington Post.

Bolton, o elefante na sala 

Com o braço-de-ferro que dura desde Fevereiro, impulsionado pela troca de acusações entre Washington e Pequim sobre a covid-19, é expectável que a China responda à acção norte-americana desta segunda-feira.

A hostilidade nas relações entre os dois países tem subido de tom nos últimos meses, não só devido à pandemia de covid-19, mas também pela guerra comercial em curso entre Washington e Pequim, bem como pelas divergências quanto ao futuro de Hong Kong.

Além disso, a menos de cinco meses das eleições presidenciais norte-americanas, com sondagens desfavoráveis, Donald Trump procura virar a agulha para a China para afastar a sua responsabilidade na gestão da covid-19, culpando Pequim pela pandemia que já infectou mais de nove milhões de pessoas e causou mais de 472 mil mortos em todo o mundo.

A designação de “missões estrangeiras” atribuída aos media chineses coincide com o lançamento do livro The Room Where It Happened, do antigo conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, que, apesar de só chegar esta terça-feira às livrarias, já faz correr muita tinta há uma semana, particularmente sobre a relação entre Washington e Pequim. 

Nos excertos divulgados pela imprensa norte-americana, John Bolton alega que Donald Trump só pensava na reeleição a todo o custo, tendo, inclusive, pedido favores ao Presidente chinês. Segundo Bolton, em 2019, na cimeira do G20 em Osaca, no Japão, Trump “implorou” a Xi Jinping para que a China comprasse produtos agrícolas americanos, o que aumentaria a popularidade de Trump nos estados rurais, aumentando as suas hipóteses de reeleição.

Durante a conferência de imprensa telefónica em que anunciou a nova designação para os media chineses, relata o New York TimesDavid Stilwell foi questionado por um jornalista da Reuters sobre o novo livro de John Bolton, mas a porta-voz do Departamento de Estado, Morgan Ortagus, recusou responder e pediu para a empresa de telecomunicações AT&T "silenciar” a pergunta. Um jornalista da Bloomberg insistiu na questão e Morgan Ortagus considerou a pergunta “inapropriada” e “ofensiva”, recusando-se, novamente, a responder. 

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