Seis longas, 30 curtas: o “indómito” cinema português no IndieLisboa

A dois meses do arranque da 17.ª edição, o festival de cinema independente anuncia uma selecção nacional que traz Catarina Vasconcelos, Catarina Mourão, Basil da Cunha ou David Pinheiro Vicente.

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La Leyenda Negra, de Patricia Vidal Delgado dr

A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos, e O Fim do Mundo, de Basil da Cunha; mais a nova curta-metragem que David Pinheiro Vicente tem agora em Cannes, O Cordeiro de Deus, e a longa que Patricia Vidal Delgado mostrou em Sundance, La Leyenda Negra; e novos filmes de Catarina Mourão, Ana Maria Gomes, Francisco Queimadela e Mariana Caló, João Fazenda ou Pedro Neves Marques. São estas as escolhas que o IndieLisboa 2020 reservou para a Competição Nacional e para os Novíssimos, anunciadas a dois meses do arranque de uma edição que a covid-19 forçou a atrasar para o Verão (de 25 de Agosto a 5 de Setembro).

Para Miguel Valverde, um dos directores do festival (com Mafalda Melo e Carlos Ramos), a pandemia pode ter obrigado a mexer nas datas, mas não mudou absolutamente nada na selecção de cinco longas e 17 curtas-metragens que nesta 17.ª edição do IndieLisboa irão compor a Competição Nacional. “Os filmes são exactamente os mesmos que estavam seleccionados em Março”, diz ao PÚBLICO o responsável. O adiamento do festival permitiu porém confirmar que as apostas foram acertadas, acrescenta: “Raramente temos a oportunidade de ver [os filmes seleccionados] na versão finalizada, porque em muitos casos fazemos a selecção quando ainda são works in progress. Agora estão já completamente terminados e, em todos os casos, justificaram plenamente a aposta que fizemos. Em alguns casos, até a ultrapassaram.”

O anúncio dos filmes que integrarão a selecção nacional 2020 sucede à revelação dos contingentes da Competição Internacional e das Retrospectivas, já anteriormente divulgados, e coincide com a abertura da bilheteira para as cadernetas Early Bird – dez bilhetes para sessões à escolha ao preço especial de 25 euros, durante um período limitado que termina a 23 de Julho.

A selecção nacional 2020, defende Miguel Valverde, é mais coesa do que em anos anteriores: “No ano passado tivemos uma competição maior do que é habitual, que apontava para caminhos muito diferentes, enquanto este ano estávamos todos muito mais coesos na ideia de festival e de programação que queríamos.” Que implica equilibrar filmes já com passagem por outros certames e outros em estreia absoluta. Nas longas, os já rodados A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos (Berlim 2020), e O Fim do Mundo, de Basil da Cunha (Locarno 2019), juntam-se a três estreias: os documentários Ana e Maurizio, de Catarina Mourão, e Entre Leiras, de Cláudia Ribeiro, e a comédia romântica A Arte de Morrer Longe, de Júlio Alves. 

A Mordida, de Pedro Neves Marques dr
Ana e Maurizio, de Catarina Mourão dr
Entre Leiras, de Cláudia Ribeiro DR
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A Mordida, de Pedro Neves Marques dr

Nas curtas, O Cordeiro de Deus, por estes dias na selecção oficial de Cannes, encabeça as estreias locais de Bustarenga, de Ana Maria Gomes (co-produção do Curtas Vila do Conde, com passagem por vários festivais franceses), A Chuva Acalanta a Dor, de Leonardo Mouramateus (Roterdão 2020), Dança do Cipreste, de Francisco Queimadela e Mariana Caló (FIDMarseille), e A Mordida, de Pedro Neves Marques (Toronto 2019).

Ao seu lado, estão novos filmes de Clara Jost (Meine Liebe), Maria Mire (Parto sem Dor), Lúcia Pires (A Rainha), Rita Macedo (Semanas de Areia, Meses de Cinza, Anos de Pó), Bernardo Lopes (Moço), João Fazenda (Mesa), Afonso e Bernardo Rapazote (Corte), Flávio Gonçalves (Errar a Noite), Francisco Valente (Carnage), Francisco Janes (Regada), Paulo Malafaya (Somewhere in Outerspace This Might Be Happening Somehow) e Luís Soares (Suspensão). 

Uma escolha feita a partir de “mais candidaturas do que no ano passado”, o que permitiu ao comité de selecção  este ano reformulado e renovado  “afinar o tiro”. “Falámos muito daquilo que gostamos, trouxemos à conversa os filmes que queríamos partilhar, e reconhecemos uma certa ideia de cinema.” Que, no caso do que se faz em Portugal, é o quê? “Uma enorme variedade. Não sei explicar porquê, mas cada vez mais o nosso cinema tem uma característica única: nunca sabes que terreno pisas, cada filme é diferente dos outros…”.

Há uma vontade enorme de continuar a fazer cinema em Portugal, independentemente de todos os problemas financeiros que são do conhecimento público, acrescenta Miguel Valverde, que não consegue explicar essa teimosia: “As pessoas não se atemorizam por fazer um filme, com muito ou pouco dinheiro, com ou sem apoios. Há uma vontade de fazer cinema em Portugal, e de querer mostrar o cinema que se fez, que é indómita. As pessoas continuam a querer fazer filmes e continuam a querer mostrá-los. E continuam a acreditar que o podem fazer.” E este ano, mais uma vez, o IndieLisboa acredita com elas, a partir de 25 de Agosto. 

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