Justiça norte-americana rejeita pedido de Trump para proibir livro de Bolton
Juiz federal admite que o livro do ex-conselheiro da Casa Branca “levanta preocupações graves de segurança” para os EUA, mas diz que a divulgação de vários excertos torna o pedido inútil. Presidente celebra “grande vitória em tribunal”.
O juiz federal norte-americano Royce Lamberth rejeitou o pedido da Administração Trump para proibir a publicação do livro de John Bolton, ex-conselheiro de Segurança Nacional do Presidente, onde este relata a experiência de 17 meses na Casa Branca e acusa Donald Trump de “não ter competência” para o cargo, entre outras revelações sobre a disfuncionalidade e o método caótico de liderança do chefe de Estado.
O Departamento de Justiça tinha justificado o pedido denunciando a divulgação de informação sensível e classificada e a ameaça que essa mesma revelação suscitava para a segurança dos Estados Unidos.
O juiz até concordou com esta última presunção, mas entendeu que o conteúdo já conhecido da obra intitulada The Room Where It Happened (A Sala Onde Tudo Aconteceu), publicado por jornais e televisões, tornava a petição inútil.
“Embora a conduta unilateral de Bolton levante preocupações graves de segurança nacional, o Governo não comprovou que a injunção seja um remédio apropriado”, justificou Lamberth na decisão judicial, conhecida este sábado. “Com centenas de milhares de cópias [do livro] em todo o mundo – muitas delas em redacções – os estragos estão feitos”.
O juiz sublinhou ainda que Bolton “expôs o seu país ao perigo” e “expôs-se, a si próprio, a uma responsabilidade civil e potencialmente criminal”.
O livro realça a obsessão permanente do Presidente pela reeleição no próximo mês de Novembro, que o levou a pedir favores políticos ao Presidente chinês, Xi Jinping, para aumentar as suas hipóteses eleitorais, ou a cometer “várias transgressões como a da Ucrânia” – numa referência ao caso que motivou o impeachment presidencial, há seis meses, por obstrução ao Congresso e abuso de poder.
BIG COURT WIN against Bolton. Obviously, with the book already given out and leaked to many people and the media, nothing the highly respected Judge could have done about stopping it...BUT, strong & powerful statements & rulings on MONEY & on BREAKING CLASSIFICATION were made....
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 20, 2020
Mas quem tomou a decisão judicial como uma grande vitória foi o próprio Presidente Donald Trump, através de uma serie de mensagens no Twitter.
“GRANDE VITÓRIA EM TRIBUNAL [em maiúsculas no original] contra Bolton. Obviamente, com o livro já entregue e vazado para tantas pessoas e para a imprensa, não havia nada que o altamente respeitado juiz pudesse fazer para o travar”, escreveu Trump. “[Bolton] tem de pagar um preço muito alto por isto”, exigiu o Presidente dos EUA.
O livro do terceiro conselheiro de segurança da Casa Branca e figura influente junto da ala mais conservadora e intervencionista do Partido Republicano, demitido em Setembro do ano passado, será colocado à venda a partir da próxima terça-feira. A editora Simon & Schuster também celebrou a decisão do juiz federal, mas com farpas à presidência.
“Agradecemos ao tribunal por ter reivindicado as protecções poderosas da Primeira Emenda contra a censura e as antigas restrições à publicação”, reagiu a editora, em comunicado.