Covid-19: Pequim começa a fechar-se perante a ameaça da segunda vaga
Nos últimos seis dias, foram diagnosticados 137 casos positivos de SARS-Cov-2 na capital chinesa. Autoridades admitem que o vírus pode ter começado a circular, sem ser detectado, há várias semanas. Desde 13 de Junho foram testadas mais de 356 mil pessoas em Pequim.
Temendo uma segunda vaga de covid-19 no país, depois de ter sido detectado um novo surto em Pequim, a China começou a apertar as medidas de segurança na sua capital, elevando o nível de emergência para o segundo mais alto numa escala de quatro.
Esta quarta-feira, depois de as autoridades terem anunciado mais 31 novos casos em Pequim, foram cancelados 1255 voos e os serviços ferroviários foram reduzidos.
Todas as movimentações dentro e fora da capital estão a ser estritamente controladas e as viagens consideradas não essenciais foram proibidas. Para sair de Pequim, onde vivem 22 milhões de pessoas, é necessário apresentar um teste negativo à covid-19.
As escolas primárias e secundárias receberam ordens para fechar, à semelhança do que aconteceu com os infantários e as universidades. A circulação nos parques e espaços públicos, como bibliotecas ou museus, foi limitada.
Os eventos desportivos foram cancelados, e as piscinas e os ginásios estão fechados. As empresas e fábricas continuam a funcionar, no entanto, as autoridades recomendam o teletrabralho ou trabalho por turnos.
O mercado de Xinfadi, local que se acredita ser a origem do surto, foi encerrado, tal como dois outros mercados localizados em dois distritos próximos. Vinte e sete bairros foram classificados como zonas de risco intermédio, enquanto um bairro próximo do mercado de Xinfadi foi considerado de alto risco e, por isso, isolado, com ordens de quarentena para todos os residentes.
Localizado no sudoeste de Pequim, o Mercado de Xinfadi fornece mais 80% das frutas e vegetais da capital, além de também vender carne e peixe. Desde o final de Maio, segundo a AFP, que cita fontes oficiais, o mercado foi visitado por mais de 200 mil pessoas.
Alguns media chineses afirmam que o vírus foi descoberto numa banca de venda de salmão importado da Europa, uma tese ainda não foi confirmada oficialmente. Os especialistas estão a analisar o material genético encontrado no mercado e as próprias autoridades chinesas admitem que a informação ainda é escassa para retirar conclusões.
Surto pode ter passado despercebido
Antes do início deste surto, Pequim esteve 57 dias sem registar qualquer caso de infecção transmitida localmente. Desde o início de Março, quando o país ultrapassou a barreira dos 80 mil casos, foram registados apenas 3200 infecções no país. Na última semana, foram detectados 137 casos positivos de covid-19.
Apesar de os números de Pequim ainda serem relativamente baixos comparativamente aos que se verificam noutros países, o desconforto é evidente no Governo chinês, que se apresentava perante o mundo como um caso de sucesso no controlo da pandemia.
Assim que foram detectados os primeiros casos, altos funcionários do Partido Comunista da China apressaram-se a declarar que o país está em modo de “guerra”.
A vice-primeira-ministra, Sun Chunlan, apelou a medidas urgentes para conter o vírus, admitindo que o risco de transmissão é, neste momento, “muito elevado”. Já o vice-secretário-geral do governo municipal de Pequim, Chen Bei, afirmou que a capital enfrenta “um perigo sério de casos importados que se estão a espalhar pela cidade e pelo país”.
Segundo as autoridades chinesas, desde 13 de Junho foram testadas mais de 356 mil pessoas e destacados 100 mil funcionários para as zonas mais afectadas, uma estratégia que é para continuar a seguir.
“O que está a ser feito é a rápida identificação, em grande escala, de potenciais locais de risco elevado”, disse à Al-Jazeera Holly Snape, especialista em política da China, do departamento de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Glasgow. “O modelo combina rápidos movimentos para encontrar a origem, cortar a transmissão e conter o contágio, através de rastreamento e testagem.”
Apesar de ainda não ser considerada oficialmente como uma segunda vaga, o aumento significativo de casos dos últimos dias indica que o surto pode ter passado despercebido durante várias semanas, com consequências imprevisíveis.
“O surto de Pequim provavelmente não começou em Junho ou em Maio, mas sim um mês antes”, afirmou Gao Fu, responsável pelo Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças, citado pelo Washington Post. “Para agora existirem tantos casos à nossa volta, certamente que antes havia muita gente assintomática. Isto é o que especulamos agora, mas temos de verificar”, acrescentou.