D. José Ornelas, novo líder dos bispos portugueses: “A miséria custa muito caro”

Bispo de Setúbal foi esta terça-feira eleito para suceder a D. Manuel Clemente na presidência da Conferência Episcopal Portuguesa.

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D. José Ornelas RUI MINDERICO/LUSA

Dizendo-se surpreendido pela sua eleição como presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), esta terça-feira, o bispo de Setúbal, D. José Ornelas, aproveitou as suas primeiras declarações enquanto detentor do cargo para avisar que o mundo pós-covid-19 não pode voltar ao que era antes. “Se alguma coisa a pandemia nos ensinou é que a miséria custa muito caro. Nós não nos podemos dar ao luxo de ter miséria entre nós”, considerou.

Dizendo-se consciente de que “os próximos tempos não vão ser fáceis”, conforme declarou à Ecclesia (agência detida pela Igreja Católica), D. José Ornelas apelou à convergência de todos os quadrantes políticos e dos diferentes sectores da sociedade. “Precisamos da convergência de todos para superarmos esta crise e construirmos algo de mais significativo porque os nossos jovens precisam disso”, enfatizou, aproveitando para dizer que, no que toca à Igreja Católica em Portugal, os bispos estão unidos. “Sobre os temas fundamentais na vida da Igreja não há divisão na CEP absolutamente nenhuma”, afirmou, propondo-se manter uma postura de diálogo com a sociedade.

Aos 66 anos, o bispo de Setúbal será presidente da CEP, órgão representativo dos bispos católicos portugueses, até 2023. Na eleição por voto secreto que decorreu em Fátima, os 28 bispos diocesanos e auxiliares escolheram para a vice-presidência da CEP D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra desde 2011. Como vogais ficaram D. Manuel Clemente e ainda D. Manuel Linda, bispo do Porto, além de D. José Cordeiro, actualmente bispo de Bragança-Miranda mas que vem sendo apontado como sucessor de D. Jorge Ortiga, no arcebispado de Braga, entre outros.

O padre Manuel Barbosa foi reconduzido no cargo de porta-voz da CEP. A assembleia plenária estava inicialmente marcada para Abril, mas foi adiada devido à pandemia de covid-19.

D. José Ornelas era, a par de D. António Marto, um dos candidatos mais fortes à presidência da CEP. Os mesmos nomes já estavam na calha para suceder, em 2013, a D. José Policarpo. O sucessor “natural” de D. Manuel Clemente, que ao fim de sete anos atingiu o limite de dois mandatos consecutivos, seria o de D. António Marto. Mas este conta já 73 anos, faltando-lhe apenas dois para poder pedir a renúncia do cargo, e o próprio D. Manuel Clemente, apelara antes à necessidade de garantir algum rejuvenescimento no órgão que congrega os bispos portugueses.

Essa garantia de rejuvenescimento está garantida com a escolha de D. José Ornelas, na opinião do padre e professor de Filosofia Anselmo Borges. “Neste momento em que, no meu entender, a conferência episcopal precisa de um novo impulso, ele será capaz de assegurar o rejuvenescimento necessário”, sublinhou ao PÚBLICO, para descrever o novo presidente da CEP como “uma figura destacada do ponto de vista intelectual, e, por outro lado, dedicado aos outros e à sociedade”. “Tem uma gigantesca experiência internacional”, enfatizou ainda.

Além de ter passado por Roma, D. José Ornelas foi superior-geral da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos), entre 2003 e 2015. Neste ano, quando se preparava para iniciar uma missão em África enquanto membro daquele instituto religioso com presença em mais de 40 países, o Papa Francisco nomeou-o bispo de Setúbal.

É natural de Porto da Cruz, na Madeira, onde nasceu a 5 de Janeiro de 1954 e foi ordenado padre a 9 de Agosto de 1981. Do seu currículo académico destacam-se a especialização em Ciências Bíblicas e o doutoramento em Teologia Bíblica pela Universidade Católica Portuguesa, onde leccionou durante vários anos.

Em Setúbal, tem acompanhado de perto os problemas sociais da diocese, condenando repetidamente problemas como “o racismo, a injustiça e a exclusão” que considera não terem lugar na Igreja Católica. No final de Maio, em entrevista à Ecclesia, o bispo de Setúbal afirmou que as imagens que os meios de comunicação social exibiram do Bairro da Jamaica “são uma vergonha para o país”.

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