Turismo da Grande Lisboa convida portugueses a “desopilar” com promoções

Com os turistas estrangeiros ainda longe, a região aposta no mercado interno para manter as empresas do sector à tona: “Seria ingenuidade pensar que ninguém vai ficar pelo caminho.”

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A região faz-se valer da diversidade da oferta para captar turistas nacionais Nuno Ferreira Monteiro

“Quantos de nós há quanto tempo não vamos jantar a uma casa de fados?”, pergunta Vítor Costa. Para muitos portugueses, a resposta talvez varie entre o “nunca” e o “raramente”. Num momento em que os turistas estrangeiros são uma miragem e as empresas do sector lutam para sobreviver, a Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa (ERT-RL) vira-se para o mercado nacional e acena a quem está cá dentro com pacotes promocionais para viver novas experiências.

Neste Verão, entre Julho e Setembro, a região vai ter propostas turísticas específicas para os habitantes de Portugal e da Grande Lisboa. Uma escapadinha de três dias, com duas noites de hotel, uma experiência para duas pessoas e dois Lisboa Card, que dão acesso aos transportes e monumentos, custará entre 160 e 240 euros, consoante a gama do alojamento escolhido. Para quem não precise de dormida, há experiências a 20 euros e noites de fado a preço de saldo (25 euros).

“Este período tem sido muito difícil para as empresas e estamos todos a tentar pôr a cabeça de fora, a tentar acordar”, disse esta terça-feira Vítor Costa, presidente da ERT-RL, na apresentação dos novos pacotes. Assumindo que, por causa da pandemia, haverá “muita dificuldade” em atrair os turistas estrangeiros, o responsável afirmou que “o mercado interno assume muita importância” para o sector, embora a região de Lisboa tenha uma desvantagem face a outras: aqui mora um terço da população nacional.

Com as ofertas agora anunciadas, a entidade quer atrair portugueses do resto do país e oferecer-lhes “coisas que ainda não conhecem”, disse Vítor Costa. Mas quer também “aprofundar a relação entre os residentes e a sua oferta”.

É por isso que no pacote destinado aos habitantes da Grande Lisboa há noites de fado a 25 euros por pessoa, um preço bem abaixo do habitual, ou um Lisboa Card 24 horas por 12,5 euros com acesso gratuito a museus e monumentos da região.

“Nós não temos a ilusão de que isto nos vai levar à mesma situação que tínhamos, queremos é que a oferta se dinamize”, afirmou Vítor Costa. O orçamento para esta iniciativa ronda os 600 mil euros, dos quais 300 mil serão para uma campanha nos meios de comunicação, 150 mil para aquisição de experiências a empresas do sector e 100 mil para casas de fado.

No leque das experiências disponíveis há percursos de arte urbana em Lisboa e Loures, visita a adegas em Palmela, Bucelas, Colares ou Azeitão, passeios a pé pelo centro de Lisboa ou observação dos golfinhos no Sado. Estão já inscritos 85 hotéis, 14 empresas de animação turística e 16 casas de fado, além de restaurantes e empresas de rent-a-car. As reservas vão poder ser feitas por um número de telefone ainda não divulgado e no site ​do Turismo de Lisboa.

“​Desopilar”​ cá dentro

“Não estamos a injectar dinheiro, não estamos a dar dinheiro a ninguém, estamos a dar oportunidade às pessoas de trabalhar”, sublinhou Júlio Fernandes, membro da comissão executiva da ERT-RL em representação da AHRESP, associação de hotelaria e restauração. Esse sector, considerou, “tem aqui um apoio fundamental”.

Vítor Costa disse que “seria ingenuidade pensar que ninguém vai ficar pelo caminho e que até empresas relevantes não vão ficar pelo caminho”, mas acredita que “as pessoas vão querer desopilar” depois do confinamento e que “o turismo vai ter uma grande importância”.

Numa região em que o sector turístico depende “mais de 95%” do transporte aéreo, disse o presidente, “até ao fim do ano será navegar à vista”. E, embora não queira ainda fazer mais previsões, Vítor Costa antevê um 2020 no vermelho: “Quando chegarmos ao fim do ano e fecharmos as contas, de certeza que vai ser um ano negativo.”

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