Autópsia classifica morte de Rayshard Brooks como homicídio, acusação é conhecida esta semana
Morte do jovem afro-americano já levou a demissões na polícia, numa altura em que o escrutínio à actuação policial é muito maior. Familiares pedem justiça.
A morte de Rayshard Brooks, cidadão afro-americano de 27 anos morto a tiro por um polícia branco em Atlanta, foi classificada como homicídio. Segundo a autópsia divulgada pelo médico-legista do condado de Fulton, Brooks morreu devido a dois tiros que lhe provocaram danos nos órgãos e perda de sangue.
O caso está a ser investigado pela procuradoria distrital do condado de Fulton. Paul Howard, procurador responsável pela investigação, disse à CNN que a decisão de avançar com uma acusação contra os dois agentes deverá ser tomada até à próxima quarta-feira. O crime de homicídio está em cima da mesa, apesar das implicações associadas ao facto de Brooks ter, alegadamente, tirado o taser a um polícia.
“Ele [Rayshard Brooks] não parecia constituir uma ameaça para ninguém”, disse Paul Howard. “O facto de [o incidente] ter escalado até à sua morte parece irracional”, acrescentou.
O incidente ocorreu na última sexta-feira à noite, depois de várias pessoas terem ligado para a polícia local a queixarem-se de que Rayshard Brooks teria adormecido no carro e estar a bloquear o trânsito num restaurante drive-thru. Os dois polícias abordaram Brooks e submeteram-no a um teste de alcoolemia, que deu positivo. Imagens de videovigilância mostram que, enquanto decorria a detenção, os três caíram ao chão e Brooks tentou fugir. Enquanto corria, foi baleado pelas costas.
Garrett Rolfe, o agente que atingiu mortalmente Brooks, foi despedido, e Devin Brosnan, o outro polícia envolvido no incidente, foi suspenso administrativamente. Rolfe trabalhava no departamento da polícia local desde 2013, enquanto Brosnan exercia funções há menos de dois anos.
A morte de Brooks reacendeu os protestos nos Estados Unidos contra o racismo e a violência policial, numa altura em que o país entrou na quarta semana de manifestações na sequência do assassínio de George Floyd, afro-americano asfixiado até à morte por um polícia de Mineápolis.
"Quero que eles vão para a prisão"
As demissões imediatas do agente Garrett Rolfe e da chefe da polícia local revelaram a rapidez na resposta às denúncias de violência policial, impulsionada pelo maior escrutínio à actuação da polícia na sequência da morte de Floyd.
“Eu acho que as pessoas estão cansadas”, disse ao New York Times Geoffrey P. Alpert, professor de Criminologia na Universidade da Carolina do Sul, acrescentando que o maior escrutínio se deve às evidências mostradas em vídeo: “Estamos a começar a ver muito mais provas que irão permitir que os agentes ou acabem justificados ou censurados, por vezes, até condenados.”
Os familiares de Brooks estão completamente destroçados. No domingo, em diversas entrevistas aos media norte-americanos, recordaram o afro-americano de 27 anos como um bom pai (tinha três filhas, de um, dois e oito anos e um enteado de 13 anos), que estava a reconstruir a sua vida, assassinado na véspera do aniversário de uma das suas filhas.
“Não consigo perceber porque aconteceu daquela forma”, disse Larry Barbine, pai de Rayshar Brooks, em entrevista ao Washington Post. “Soube da sua morte no sábado. Da sua morte não, do seu assassínio. Estou devastado”, afirmou.
Já Tomika Miller, mulher de Brooks, numa entrevista à CBS, pediu que os polícias envolvidos sejam julgados e condenados. “Quero que vão para a prisão. Se tivesse sido o meu marido a baleá-los, ele estaria na prisão. Estaria a cumprir prisão perpétua”, reiterou.
A morte de Rayshar Brooks gerou também condenação por parte de alguns sectores da política norte-americana, numa altura em que democratas e republicanos discutem reformas para a polícia. Uma das vozes que apelou a mudanças estruturais foi Stacey Abrams, apontada como uma das possíveis escolhas para a vice-presidência da candidatura de Joe Biden.
“Precisamos de mudar a forma como os agentes da polícia fazem o seu trabalho, como a lei é aplicada, porque o que aconteceu a Rayshard Brooks foi um caso de uso excessivo de força”, disse Stacey Abrams, ex-candidata democrata a governadora da Geórgia, no programa This Week”, da ABC. “Um homem foi assassinado porque estava a dormir num drive-thru, e nós sabemos que isto não foi um caso isolado”, acrescentou.