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Goodbye Lenin: uma viagem no tempo através do legado da URSS
"O que é mais forte do que um teatro decrépito com uma faixa, em cima do palco, onde se lê 'A arte pertence ao povo!', em cirílico, com a assinatura de Lenine? Ou mais forte do que estar no quartel-general das forças soviéticas na Alemanha Oriental e ter, diante dos olhos, o mapa do plano estratégico de ataque de Berlim, em 1945? O que suplanta estar no telhado de um prédio de 16 andares, em Pripyat, na Zona de Exclusão de Tchernobil, e ficar em frente a uma estrutura metálica com vários metros de altura representando um martelo e uma foice?" Nada, na opinião do fotógrafo francês Jonk, um eterno apaixonado pelos locais em ruína. "Estes são apenas três exemplos, de milhares, que tive a sorte de fotografar."
O fotógrafo sente um fascínio particular pela estética associada à propaganda soviética. "Os posters, as estátuas, os edifícios, as faixas com slogans", enumera o francês. "Sinto que todos esses objectos e edifícios condensam muita força e que essa passa a estar presente nas imagens que realizo."
Quando Jonk se apaixona por um tema, mergulha fundo, explica ao P3, em entrevista. "Mergulho até sentir que olhei para ele de todos os ângulos possíveis", conclui. Não é, por isso, de estranhar que as fotografias que realizou e compilou em Goodbye Lenin, lançado pelas Editions Pyramyd em Maio, sejam fruto de 16 viagens, realizadas entre Julho de 2015 e Abril de 2019, por todas as antigas repúblicas socialistas soviéticas — Estónia, Letónia, Lituânia, Bielorrússia, Ucrânia e Moldávia — e todos os estados que estiveram, algures no tempo, alinhados pelo regime soviético, como a Alemanha Oriental, a Polónia, a República Chega, a Hungria, a Roménia e a Bulgária. "Viajei por toda a Europa Oriental para encontrar essas cápsulas do tempo e encontrar essas relíquias da URSS", remata.
O local que mais gostou de visitar foi Tchernobil, na Ucrânia. "Fui lá sete vezes." E foi essa a primeira viagem ao local do desastre nuclear, há precisamente cinco anos, que tornou clara a decisão de procurar estes lugares e documentar o seu legado histórico. "Tive uma espécie de revelação." Marcante foi também a viagem que realizou a Pyramiden, território russo que fica em pleno arquipélago norueguês de Svalbard. "Fica a alguns milhares de quilómetros de distância do Pólo Norte", alerta. Mas vale a pena visitar.
Jonk garante que Goobdye Lenin é o primeiro fotolivro sobre a estética soviética que "revela este grau de exaustividade". E deseja que, ao folheá-lo, o leitor viaje no tempo. "Boa viagem à URSS!"