Na Sérvia, futebol abriu primeiro do que as escolas e cinemas

Derby de Belgrado entre Partizan e Estrela Vermelha recebeu 25 mil espectadores. Presidente defendeu decisão das autoridades, mas médicos questionam possível impacto epidemiológico do jogo, visto que regras de distanciamento não foram cumpridas.

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Claque do Partizan Reuters/Marko Djurica
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Adeptos do Partizan antes do apito inicial Reuters/MARKO DJURICA
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Adeptos do Estrela Vermelha marcaram presença no estádio do rival Reuters/MARKO DJURICA
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Bancada adeptos Estrela Vermelha Reuters/MARKO DJURICA
,Derby eterno
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Equipa da casa venceu por 1-0 Reuters/MARKO DJURICA
,Taça da Sérvia
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Festejos entre equipa do Partizan e adeptos Reuters/MARKO DJURICA
Belgrado
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Polícia usou máscara no estádio Reuters/MARKO DJURICA

Não é segredo que na Sérvia, tal como em muitos outros países, o futebol é visto como um factor essencial na vida social da população, uma segunda forma de “religião”. Esta importância ficou mais uma vez patente esta quinta-feira, quando as portas do estádio do Partizan de Belgrado se abriram para 25 mil pessoas, que assistiram pela primeira vez a um encontro de futebol desde a interrupção provocada pela pandemia, apesar das limitações que se prolongam há três meses em vários outros locais públicos e serviços.

No dia 17 de Maio, o Governo sérvio anunciou que, ultrapassado o estado de emergência, os eventos desportivos ao ar livre podiam regressar em Junho. Contudo, todos os espectadores tinham de assegurar um distanciamento mínimo de um metro. Escolas, cinemas e vários outros locais públicos permanecem fechados, comícios partidários estão proibidos e grandes manifestações também não podem ser realizadas. O jogo desta quinta-feira foi a excepção, contornando algumas das direcções ditadas pelas entidades de saúde pública.

O país tem conseguido controlar a pandemia com sucesso: de acordo com os dados mais recentes da Universidade Johns Hopkins, a nação com sete milhões de habitantes tem 112.175 casos de infecção e contabiliza apenas 252 óbitos. As fronteiras do país encerraram na primeira metade de Março e a Sérvia tenta agora iniciar gradualmente o processo de desconfinamento. 

derby de Belgrado entre Partizan e Estrela Vermelha a contar para as meias-finais da Taça teve todos os ingredientes que caracterizam esta rivalidade. A tradicional pirotecnia, cânticos e coreografias coloriram as bancadas que, olhando para as imagens, não cumpriram a obrigação legal do distanciamento social. Durante 90 minutos, a pandemia “desapareceu”, numa partida em que o Partizan venceu o Estrela Vermelha pela margem mínima (1-0), carimbando assim a passagem para a final da Taça.

Os únicos fragmentos de bancada sem adeptos são as secções de separação entre adeptos e ultras, desocupadas em todos os encontros entre os rivais — manchados, por diversas vezes, por incidentes de violência. Nas bancadas das duas claques — os Grobari, do Partizan, e os Delije, do Estrela Vermelha — sentadas em topos opostos, todas as cadeiras estavam preenchidas de adeptos.

Ainda assim, o Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, adepto assumido do Estrela Vermelha, defendeu a decisão das autoridades em permitir a presença de público no derby, em entrevista à agência Reuters. Não escondeu, contudo, que houve um aumento de casos após o final do estado de emergência. “Devido à reabertura, tivemos novos casos porque somos pouco disciplinados. Mas [estes casos] são maioritariamente assintomáticos”, defendeu o Presidente.

Porém, várias vozes no ramo da Medicina já se manifestaram contra este ajuntamento. Em declarações à Reuters, Dejan Zujovic, médico que foi infectado pelo vírus enquanto tratava pacientes num hospital de Belgrado, chamou à atenção para o “gigante, enorme e totalmente desnecessário risco epidemiológico” que este jogo constituiu.

Vários outros países vão assistindo ao regresso das competições de futebol, mas, na grande maioria dos casos, as bancadas permanecem vazias, para evitar o risco de contágio e propagação da doença.

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