Dijsselbloem defende “dívida europeia conjunta” para combater crise
Antigo ministro das Finanças dos Países Baixos e antecessor de Centeno no Eurogrupo reitera contudo que financiamento está sujeito à aprovação de planos e programas que têm que ser apresentados pelos governos
O antigo presidente do Eurogrupo Jeroen Dijsselbloem considerou que a crise provocada pela covid-19 é “mais dramática” do que a de 2008, propondo “dívida europeia conjunta e gastos europeus” e que as multinacionais devem pagar um imposto europeu.
“Estou profundamente preocupado. Penso que a crise é muito mais dramática do que a crise financeira de 2008, que foi lenta. Esta crise não só é mais profunda como ocorreu mais rapidamente […] e não vem do mercado financeiro ou da própria economia”, afirmou Dijsselbloem, em entrevista à TSF hoje divulgada.
Para o antecessor de Mário Centeno à frente do Eurogrupo, esta realidade coloca “muita responsabilidade” sobre os governos na tentativa de restaurar a economia.
Dijsselbloem lembrou que a resposta conjunta da Europa à crise financeira demorou quatro anos, até Mário Draghi ter assumido a presidência do Banco Central Europeu (BCE). “Desta vez, esperamos [uma acção] mais cedo. Espero que seja uma lição aprendida”, notou o político holandês.
Já no que se refere a possíveis soluções para mitigar o impacto da pandemia, o actual presidente do Conselho de Segurança dos Países Baixos defendeu que “uma recuperação baseada no aumento da dívida soberana de vários países é muito arriscada”, uma vez que os níveis já estão elevados.
Assim, dar ajudas sob a forma de empréstimos “é muito arriscado”, reiterou, notando que a resposta passa pela elaboração de propostas e planos, o que também é defendido pela Comissão Europeia. “Estamos a falar de dívida europeia conjunta e de gastos europeus. O dinheiro vai ser gasto com base em planos e propostas apresentados pelos governos”, disse.
“Não estamos a falar de dívida europeia conjunta e de gastos nacionais. Estamos a falar de dívida europeia conjunta e gastos europeus. O que significa que o dinheiro será controlado e gasto pela Comissão Europeia, com base em planos, projectos e propostas, apresentadas pelos governos nacionais ou por sectores industriais. Mas continua a ser um programa europeu, - dinheiro europeu -, sob o controlo democrático do Parlamento Europeu e do Tribunal de Contas Europeu”, defendeu à rádio portuguesa.
Durante a entrevista à rádio TSF, Jeroen Dijsselbloem abordou também a temática da justiça tributária, acrescentando que grandes multinacionais, muitas com sede nos Países Baixos, estão a evitar pagar impostos.
“Já existem iniciativas nacionais. Alguns países já estão a tributar essas empresas, mas ainda é [uma resposta] muito pequena e fragmentada. A melhor forma […] é ter um imposto europeu para as grandes multinacionais e para as empresas de tecnologia”, vincou, acrescentando que o impacto do novo coronavírus evidenciou que os efeitos da crise “não são distribuídos de forma justa”.
Questionado sobre o mandato de Mário Centeno à frente do Eurogrupo, Dijsselbloem considerou que o também ministro das Finanças de Portugal teve um papel “construtivo” e que assumiu compromissos de forma séria.
“Mário Centeno foi, desde o primeiro dia, um colega muito sério […]. Ele manteve um orçamento muito restritivo em Portugal, mas no Eurogrupo o seu papel foi muito construtivo e sério”, afirmou.
O antecessor de Centeno à frente do grupo de ministro das Finanças da zona euro defendeu que o actual mandato tem sido marcado por algumas “complexidades específicas”, sublinhando que quando assumiu este cargo também enfrentou algumas dificuldades.
“Algumas pessoas dizem que é ainda mais difícil administrar um grupo como o Eurogrupo se não houver uma crise”, referiu.
Na terça-feira ao início da tarde, foi anunciada a saída de Mário Centeno dos cargos de ministro das Finanças, que vai ocorrer oficialmente na próxima segunda-feira, e de presidente do Eurogrupo em 13 de Julho, quando termina o seu mandato.