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OMS exige transparência ao Brasil na divulgação de dados da covid-19

Fim-de-semana foi marcado por polémica na mudança de paradigma na divulgação dos números de infecções e mortes. Ministério Público pediu explicações enquanto as críticas ao Governo intensificam-se.

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Bolsonaro ameaçou retirar o Brasil da OMS Reuters/ADRIANO MACHADO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) pediu transparência ao Brasil no combate ao coronavírus, depois de o Governo de Brasília ter anunciado uma mudança na metodologia de divulgação dos dados sobre a pandemia de covid-19.

“Nós temos dados extremamente detalhados do Brasil sobre a pandemia, e esperamos que assim continue”, começou por dizer Michael Ryan, director de emergências da OMS, em conferência de imprensa, referindo-se depois à polémica que está instalada no Brasil quanto à divulgação dos dados.

“É muito importante que as mensagens sobre transparência e partilha de informação sejam consistentes e que possamos confiar nos nossos parceiros no Brasil para nos fornecerem informação”, disse Ryan.

O responsável da OMS, organização da qual Jair Bolsonaro ameaçou retirar o Brasil, disse ainda que espera que a “confusão” em torno dos números divulgados pelo Governo seja resolvida rapidamente.

Depois de ter mudado o procedimento de divulgação de dados na sexta-feira, passando apenas a revelar os números das últimas 24 horas, intensificaram-se as críticas ao Governo brasileiro que, no domingo, recuou e demonstrou intenção de criar um portal interactivo onde os casos acumulados possam ser consultados, apesar de ainda não existir data para que tal aconteça.

Entretanto, no domingo, o Executivo divulgou dois balanços diferentes, com pouco mais de uma hora de intervalo. No primeiro boletim, dava conta de mais 1382 mortes no país nas últimas 24 horas. No entanto, uma hora e meia depois, foi divulgado novo boletim, com um aumento de 525 mortes – menos 857 do que na lista inicialmente divulgada –, o valor oficial. O Governo justificou a confusão com um erro de cálculo.

Intensificam-se as críticas

Depois de Bolsonaro confirmar a mudança de paradigma na divulgação dos dados, o Ministério Público Federal deu 72 horas ao ministro da Saúde Interino, Eduardo Pazuello, para que este explique esta mudança. Desde então, as críticas ao Governo têm surgido em catadupa. 

O deputado federal e presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, afirmou que “brincar com a morte é perverso” e acusou o Governo de tentar “tapar o sol com a peneira”. “Um ministério que tortura números cria um mundo paralelo para não enfrentar a realidade dos factos”, escreveu Maia no Twitter.

O secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, apelou a que o Governo retome a publicação dos números para que estes possam ser analisados de forma transparente e alertou que esta mudança “pode custar muitas vidas ao país”. Já Alberto Beltrame, presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), organismo que reúne os gestores dos 26 estados e do Distrito Federal, disse, em entrevista à Rádio Gaúcha, que os dados sobre a covid-19 “são propriedade do povo brasileiro”, e anunciou que o Conass inaugurou um portal paralelo para divulgar os dados do coronavírus no país.

Para promover a transparência dos dados, temendo que o Governo de Bolsonaro os tente esconder, vários órgãos de comunicação social brasileiros, incluindo jornais como a Folha de São Paulo ou o Estadão, e várias media do grupo Globo, lançaram uma iniciativa inédita e anunciaram que vão recolher e divulgar dados sobre a pandemia. “Com essa iniciativa conjunta de levantamento de dados com os estados, deixamos claro que a imprensa não permitirá que os nossos leitores fiquem sem saber a extensão da covid-19”, afirmou Sérgio Dávila, director da Folha.

Segundo os números da Universidade Johns Hopkins, oBrasil regista 691.758 infectados e 36.455 mortos devido à covid-19

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