Hong Kong aprova lei que criminaliza insultos ao hino chinês em sessão marcada por protestos
Três deputados foram expulsos do parlamento. Legislação polémica foi aprovada no dia em que se assinala o 31.º aniversário da revolta na Praça Tiananmen, e a vigília em memória das vitimas foi proibida.
O Conselho Legislativo de Hong Kong aprovou, nesta quinta-feira, uma lei que criminaliza insultos ao hino nacional chinês. Segundo o South China Morning Post, a lei foi aprovada por 41 votos a favor e apenas um contra, num debate em que deputados pró-democracia se envolveram em confrontos e foram expulsos da sala.
A sessão parlamentar chegou a ser interrompida, depois de Ray Chan Chi-chuen, deputado pró-democracia, ter saído do seu lugar e derramado um líquido mal-cheiroso no chão, em protesto contra a lei e em homenagem às vítimas da Praça de Tiananmen. O deputado acabaria por ser expulso da sala pelas forças de segurança, tendo sido acompanhado por dois outros eleitos.
“Nunca deveremos perdoar o Partido Comunista por ter assassinado o seu próprio povo há 31 anos, sem ter sido responsabilizado por isso. Um regime tão vergonhoso fede para sempre”, afirmou Eddie Chu Hoi-dick, citado pelo South China Morning Post, antes de ser expulso da sessão. Momentos mais tarde, o deputado Ted Hui seria também levado pelas forças de segurança depois de ter tentado aproximar-se do presidente do parlamento, Andrew Leung Kwan-yuen.
De acordo com a lei aprovada esta quinta-feira, quem desrespeitar a Marcha dos Voluntários, o hino chinês, pode ser multado e enfrentar uma pena de prisão até três anos. Os seus opositores consideram-na como mais uma tentativa da China controlar o território que goza de uma semiautonomia e limitar a liberdade de expressão.
Em Hong Kong, nos jogos de futebol, por exemplo, era habitual o hino chinês ser assobiado, o que envergonhava o regime de Pequim. À luz desta nova lei, estes comportamentos passam a ser considerados crime e, para tentar criar um sentimento patriótico nos jovens, a lei prevê ainda que a Marcha dos Voluntários seja ensinada nas escolas.
A aprovação da lei, que já era expectável, acontece no dia em que se assinala o 31.º aniversário da revolta na Praça Tiananmen, em Pequim. Pela primeira vez, as autoridades de Hong Kong e Macau proibiram as manifestações para assinalar a data. É mais um sinal do controlo que a China está a reforçar sobre a região administrativa, depois de na semana passada o Congresso Nacional do Povo, em Pequim, ter aprovado uma lei de segurança nacional que pretende controlar os manifestantes pró-democracia.
Apesar da proibição de assinalar o massacre da Praça de Tiananmen, justificada pelas autoridades de Hong Kong pelo risco de contágio de covid-19, grupos de activistas pretendem assinalar a data.
Anualmente, nesta data, realiza-se uma vigília no Parque Vitória, no centro de Hong Kong, para homenagear as vítimas do massacre de Tiananmen em 1989, quando o Exército chinês abriu fogo contra os manifestantes. Com a proibição imposta pelas autoridades, os organizadores da vigília apelaram a que queira participar acenda velas nas janelas ou participe em celebrações na Internet. No entanto, vários activistas pretendem desafiar as autoridades e deslocar-se ao Parque Victoria, apesar de as autoridades terem isolado o local com cercas de metal e barricadas.