“A América tem de analisar as suas falhas trágicas”, diz George W. Bush sobre os protestos
Milhares de pessoas não obedeceram ao recolher obrigatório, mas noite de terça-feira foi mais pacífica do que as anteriores. Governador do Minnesota anunciou investigação às práticas de discriminação racial da polícia nos últimos dez anos.
Sem mencionar Donald Trump, o ex-Presidente norte-americano George W. Bush afirmou que os os Estados Unidos devem “reflectir sobre as suas trágicas falhas”. Bush diz-se “angustiado com a brutal asfixia de George Floyd”, o afro-americano assassinado por um polícia de Mineápolis, e “perturbado com a injustiça e o medo que estão a sufocar” o país.
“A doutrina e os hábitos da superioridade racial, que já quase dividiram o nosso país, ainda ameaçam a nossa União. Para resolver os problemas dos americanos é preciso corresponder aos ideais americanos - à verdade fundamental que todos os seres humanos são criados iguais e dotados por Deus com os mesmos direitos”, afirmou o ex-presidente, conservador e do Partido Republicano, que tentou fazer um discurso de união que o actual inquilino da Casa Branca não tem feito.
Bush, que durante os seus dois mandatos, foi alvo de fortes críticas devido à invasão do Iraque e à resposta ao furacão Katrina, que devastou, sobretudo comunidades afro-americanas, demarcou-se do actual Presidente. “Muitos duvidam da justiça do nosso país, e com boas razões. Os negros assistem à repetida violação dos seus direitos sem uma resposta urgente e adequada das instituições norte-americanas.”
Statement by President George W. Bush pic.twitter.com/KjEolhAN6U
— George W. Bush Presidential Center (@TheBushCenter) June 2, 2020
George W. Bush junta-se ao ex-presidente Barack Obama, que, na semana passada, considerou que a situação de discriminação racial que se vive nos EUA “não pode ser normal em 2020” e apelou aos norte-americanos para trabalharem juntos para acabar com a discriminação.
Menos violência
Milhares de pessoas voltaram a sair às rua na terça-feira, desafiando o recolher obrigatório imposto em várias cidades e a resposta musculada da polícia nos últimos dias. Milhares de manifestantes pacíficos, em Nova Iorque, pediram justiça para George Floyd e o fim da violência policial, apesar de o mayor Bill de Blasio ter imposto o recolher obrigatório até ao final desta semana, numa tentativa de pôr fim ao caos que se tem vivido nos últimos dias.
And flash bangs. Police are pepper spraying and chasing people down on bikes. People were throwing water bottles. pic.twitter.com/dFaIgi5zwB
— Casey Martin (@caseyworks) June 3, 2020
Apesar de ter diminuído a violência, houve episódios de confrontos com a polícia. Milhares de pessoas ficaram bloqueadas na Ponte de Manhattan pela polícia. Em Seattle, ao final da noite, a polícia dispersou manifestantes com gás pimenta. Os manifestantes responderam atirando garrafas de água.
Cops in the middle of the Manhattan bridge but there’s more peaceful protestors than NYPD. pic.twitter.com/i7EU7ZTp27
— kate lasell (@didi_coffin) June 3, 2020
Nas ruas de Washington, continuaram a ver-se carros militares blindados nas ruas, e houve manifestantes a ajoelharam-se perto da Casa Branca, horas antes de entrar em vigor o recolher obrigatório. Os protestos não foram tão intensos como no dia anterior, quando a polícia abriu caminho entre manifestantes com gás lacrimogéneo, para que Donald Trump fosse a uma histórica igreja da capital - para uma sessão de fotos. Essa investida policial foi a acção mais polémica em termos políticos desta semana de protestos.
A capital norte-americana, contudo, permanece em alerta máximo, com 1600 soldados destacados, enquanto o Presidente Donald Trump continua a ameaçar agir unilateralmente para travar os protestos.
Today we march peacefully as one.
— Sylvester Turner (@SylvesterTurner) June 2, 2020
We walk to bring justice.
We walk to say his name and all their names.#JusticeForGeorgeFloyd #GeorgeFloydProtest #Houston pic.twitter.com/FvaRAQL3Iy
Em Houston, Texas, cidade onde George Floyd cresceu, realizou-se uma marcha de homenagem, com a participação da família do afro-americano de 46 anos e do mayor de Houston, Sylvester Turner.
Em Mineápolis, a filha de George Floyd, Gianna, de seis anos, apareceu ao lado da sua mãe, Roxie Washington, numa conferência de imprensa, naquela que foi a sua primeira aparição pública. “No final do dia, eles [polícias responsáveis pela morte de Floyd] podem ir para casa e estar com as suas famílias. A Gianna já não tem pai. Ele nunca a verá crescer, nunca verá a sua formatura, nunca a poderá levar ao altar. Se ela tiver um problema e precisar do pai, não o terá”, disse Roxie Washington. “Estou aqui pela minha filha. Quero que seja feita justiça.”
Our Minnesota Department of Human Rights today filed a civil rights charge against the MPD. @mnhumanrights will investigate the department’s policies, procedures, and practices over the past 10 years to determine if they engaged in systemic discriminatory practices.
— Governor Tim Walz (@GovTimWalz) June 2, 2020
Minnesota investiga racismo
O estado do Minnesota avançou com um processo de alegada violação dos direitos humanos contra o Departamento de Polícia de Mineápolis, do qual fazia parte Derek Chauvin e os outros três polícias que assistiram ao assassínio de George Floyd. O estado vai investigar as práticas e políticas do departamento nos últimos dez anos, para determinar se incorreu em discriminação racial sistemática, revelou o governador democrata do Minnesota, Tim Waltz.
“Não vamos restaurar a paz nas nossas ruas com um maior número de membros da Guarda Nacional. Não vamos estabelecer a paz nas nossas ruas mantendo o recolher obrigatório”, disse Waltz, citado pela CBS News. “Vamos garantir a paz nas ruas quando enfrentarmos as questões sistemáticas que a puseram em causa em primeiro lugar”, acrescentou.
“Existe informação suficiente para investigar se o acusado [Departamento da Polícia de Mineápolis] utiliza padrões ou práticas de discriminação sistemática contra pessoas de cor, especificamente membros da comunidade negra, com base na raça”, lê-se na acusação.
Segundo o New York Times, o Departamento de Direitos Humanos não pode levar a cabo acusações criminais, contudo, se as investigações determinarem a existência de comportamentos discriminatórios, as autoridades estaduais podem forçar mudanças nas práticas da polícia e, inclusive, processar o departamento policial.