Mais ciclovias, menos estacionamento e obras em 100 locais: o plano de Lisboa para o pós-covid
Av. da Índia perde uma via de trânsito para ter ciclovia, obras previstas para a Baixa e Chiado mantêm-se e Av. 5 de Outubro fica sem estacionamento. Plano para aumentar o espaço público e a mobilidade ciclável foi apresentado.
A Câmara de Lisboa quer construir 16 novas ciclovias até Setembro, incluindo em algumas das principais avenidas da cidade, como as da Liberdade, Almirante Reis, da Índia, 24 de Julho e de Roma. Além disso, a autarquia vai intervir durante o Verão em mais de 100 locais para aumentar passeios e esplanadas, eliminando vias de trânsito e estacionamento automóvel.
Fernando Medina anunciou esta quarta-feira o plano de obras para os próximos meses e a sua ambição é chegar ao primeiro trimestre de 2021 com uma rede de ciclovias a rondar os 200 quilómetros e vários espaços públicos da capital de cara completamente mudada.
“No fundo estamos a executar a estratégia de Lisboa ciclável, mas com uma nova rapidez”, disse o autarca em conferência de imprensa, aludindo à meta traçada no início do mandato de ter 200 quilómetros de ciclovias até ao próximo ano. Ao dia de hoje, esse objectivo está ainda longínquo, pois a rede tem actualmente cerca de 100 quilómetros.
A pandemia de covid-19 e a necessidade de distanciamento serviram de empurrão para a câmara. “Nós não escolhemos a pandemia que estamos a viver, mas temos uma palavra a dizer sobre o futuro. Temos de agarrar este momento para fazer aquilo que ainda não foi feito”, afirmou o presidente, acrescentando que é responsabilidade dos poderes públicos trabalhar para “evitar as seis mil mortes causadas pela poluição atmosférica em Portugal”.
Novas ciclovias em três fases
A criação das 16 novas ciclovias vai decorrer em duas fases, seguindo-se uma terceira mais longa. Uma primeira, até fim de Julho, em que se incluem já intervenções em importantes eixos da cidade. É o caso da Avenida da Índia, onde vai ser suprimida uma via de trânsito automóvel, da Almirante Reis e da Av. da Liberdade, segundo os projectos que já tinham sido apresentados com o anúncio da Zona de Emissões Reduzidas Avenida Baixa-Chiado (ZER ABC).
A segunda fase, a decorrer até Setembro, contempla a criação de ciclovias nas avenidas de Roma e de Berna (com supressão de uma via para automóveis), Marechal Gomes da Costa, Lusíada, José Malhoa, das Descobertas e de Ceuta, bem como na Rua Conde de Almoster. Está ainda prevista uma terceira fase, até 2021, com obras nas avenidas Gago Coutinho, Restelo, Torre de Belém, Álvaro Pais, Carlos Paredes e Helena Vieira da Silva.
O objectivo é criar uma “rede estruturante”, que “liga os principais pontos da cidade”, disse Fernando Medina, explicando que será “uma rede segura e segregada do trânsito automóvel”. A rede será criada à semelhança do que já aconteceu na Rua Castilho e na Rua Marquês de Fronteira, com sinalização no chão e pilaretes. “Vamos criá-la num sistema pop-up, de forma muito rápida. Pode tornar-se definitiva, se for muito utilizada. Podemos adaptar o desenho, criando novas ciclovias ou avançando para soluções mais definitivas”, afirmou o autarca.
Mais passeios e esplanadas, menos estacionamento
Mudanças temporárias ou permanentes no espaço público também estão incluídas no pacote de intervenções divulgadas esta quarta-feira e, com o objectivo de alargar áreas pedonais e permitir a criação de esplanadas, Medina pôs o foco na redução de vias de trânsito e de lugares de estacionamento automóvel.
É o que está previsto, por exemplo, para a envolvente do Mercado de Arroios, para a Av. 5 de Outubro, para a Rua de Belém, para o troço final da Rua da Penha de França junto ao Mercado de Sapadores, para a Estrada da Luz, para a Praça Paiva Couceiro e para a Rua D. Pedro V entre o Príncipe Real e a Rua de S. Pedro de Alcântara.
Algumas mudanças serão duradouras – como a que se prevê para a Rua Nova da Trindade com o fecho definitivo à circulação automóvel – enquanto outras terão carácter mais efémero. Acontecerá isso, por exemplo, na Avenida da Igreja, onde o trânsito estará cortado durante os fins-de-semana.
A lista dos 100 locais escolhidos pela câmara ainda não foi totalmente divulgada e os montantes envolvidos também não. A autarquia quer usar o chamado “Urbanismo táctico”, disse Medina, recorrendo a floreiras e pinturas no chão para mudar o uso do espaço e mais tarde fazendo obras definitivas. É o que vai acontecer na Rua de São Pedro de Alcântara, que tinha obras previstas no âmbito da ZER ABC e que, apesar do seu adiamento, se mantêm programadas.
“Naturalmente haverá um período de consulta pública, por via electrónica”, afirmou o presidente, sublinhando que todos os presidentes de junta já contribuíram com ideias. O autarca considera que estas medidas servem o propósito “essencial” do distanciamento, mas que também servirão para “mitigar as ondas de calor” e “apoiar o comércio local e a restauração”.
Notícia corrigida: Uma versão anterior deste artigo afirmava que eram 60 mil os mortos devido a poluição atmosférica em Portugal, mas o número correcto é seis mil