Fármaco desenvolvido para cancro da mama usa composto presente nos brócolos
Investigador Bruno Simões é o primeiro autor do artigo científico que apresenta os resultados de testes em ratinhos e em pessoas.
Um novo fármaco baseado num composto natural encontrado em brócolos, couve-de-bruxelas e outros vegetais pode ser eficaz para reverter ou mesmo impedir a resistência à terapia hormonal do cancro da mama, concluiu um estudo científico publicado na revista Oncogene, ligada à revista científica Nature.
O português Bruno Simões e outros cientistas da Universidade de Manchester, no Reino Unido, descobriram que o medicamento SFX-01 poderá reverter ou mesmo impedir a resistência ao tratamento por bloquear uma via de sinalização importante do cancro chamada STAT3.
O fármaco foi desenvolvido com uma empresa britânica que estabilizou o composto químico sulforafano, que investigadores norte-americanos já tinham demonstrado ter efeitos no tratamento do cancro, e que Bruno Simões e os colegas testaram em ratinhos para garantir que a molécula estabilizada tinha o mesmo impacto.
Posteriormente foi feito um teste clínico com mais de 40 doentes de cancro da mama, que concluiu que 25% deles viram o seu cancro parar de progredir durante os seis meses que receberam tratamento. “Muitos destes cancros acabam por desenvolver resistências aos tratamentos. O que demonstrámos é que este composto consegue eliminar células resistentes ao tratamento”, disse à agência Lusa Bruno Simões, que é investigador num grupo liderado por Rob Clarke.
O resultado do estudo representa, segundo o investigador português que é o primeiro autor do artigo científico, um exemplo de investigação translacional, que partiu de uma investigação básica do mecanismo biológico e teve uma aplicação real, estando agora em testes clínicos.
Este fármaco vai continuar a ser desenvolvido com mais testes clínicos para testar a eficácia, mas Bruno Simões, que fez licenciatura na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e concluiu o doutoramento em Bilbau, em Espanha, pretende concentrar-se na investigação de mecanismos de prevenção. “Quando o cancro da mama chega a um estado avançado, por mais drogas que tentemos usar só conseguimos atrasar um pouco a progressão, mas é difícil controlá-lo. Estamos interessados em estudar casos de mulheres de alto risco para identificar drogas que possam prevenir o cancro de ocorrer.”