O coronavírus pode transmitir-se pela água do mar, dos rios e das piscinas? Risco é “ínfimo”

A directora-geral da Saúde disse que o risco de transmissão do vírus em grandes lençóis ou extensões de água é baixo e que é seguro usar estes espaços, depois de ter sido questionada sobre a utilização de albufeiras e de praias fluviais durante os meses mais quentes.

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Praia da Costa da Caparica, Portugal daniel rocha

Não foi preciso que chegasse o Verão para que começassem os mergulhos no mar, as idas às praias fluviais, às piscinas, albufeiras e rios espalhados pelo território português. Mas, com a covid-19, é normal que os portugueses pensem em pequenas coisas que antes lhes passavam ao lado. Por exemplo: é seguro ir a banhos?

Do que sabemos até agora sobre o novo coronavírus, a certeza é que a principal via de transmissão é o contacto próximo com pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2, o coronavírus que causa a covid-19. Estas transmissões por contacto próximo ocorrem principalmente através de gotículas que contêm partículas virais que são libertadas pelo nariz ou boca de pessoas infectadas, quando tossem ou espirram, e que podem atingir directamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Segundo as autoridades de saúde, a transmissão pode ocorrer também através do contacto com superfícies e objectos contaminados: as gotículas podem depositar-se em locais que rodeiam o doente e, assim, infectar outras pessoas quando estas tocam com as mãos nestes objectos ou superfícies, entrando depois em contacto com os olhos, nariz ou boca.

Sabendo isto, existe algum risco de as gotículas expelidas por uma pessoa infectada — ou por alguém que é assintomático mas que transporta a doença — estarem presentes na água? E, se sim, existe a possibilidade de alguém ficar infectado desta forma?

A directora-geral da Saúde, Graça Freitas, esclareceu, esta quarta-feira, que o risco de transmissão do vírus em grandes lençóis ou extensões de água é “ínfimo”, depois de ter sido questionada sobre a utilização de albufeiras e de praias fluviais durante os meses mais quentes. Estes cursos de água, ao contrário do que acontece com as piscinas, não podem ser desinfectados com produtos químicos. “O risco de transmissão é ínfimo, até porque depois os vírus estão diluídos na água e não entrarão pela via respiratória. Será tranquilo e seguro utilizar [estes espaços]”, referiu.

Sobre esta mesma questão, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla inglesa) dos Estados Unidos, afirma que “não há evidências de que o vírus possa ser transmitido através da água de piscinas, banheiras de hidromassagem ou parques aquáticos”, até porque “a operação adequada destes locais e a desinfecção da água com cloro deve inactivá-lo”. O CDC diz também que, de acordo com a informação científica disponível até ao momento, o SARS-CoV-2 não foi detectado em água potável. “Os métodos convencionais de tratamento de água que usam filtragem e desinfecção, como os da grande parte dos sistemas municipais de água potável, devem remover ou inactivar o vírus”, informa na sua secção de perguntas e respostas sobre a covid-19.

A autoridade de saúde dos EUA diz ainda que, embora exista, em muitos casos, uma disseminação contínua do vírus pela comunidade, é importante que os frequentadores e operadores deste tipo de espaços inseridos em hotéis ou complexos de apartamentos tomem medidas para garantir a sua segurança.

À publicação especializada em turismo Condé Nast Travel, vários especialistas em saúde pública dizem que nadar no mar não é um risco e que a população não deve preocupar-se com os mergulhos, mas sim com o distanciamento físico em relação a outras pessoas. Durland Fish, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, diz que o vírus "não vai viajar debaixo por via aquática” e que “é menos provável que sobreviva na água do que no ar”.

Apesar de o risco ser baixo, há outros cuidados que a população deve ter quando frequentarem estes espaços. O plano de desconfinamento do Governo português prevê, entre outras regras, um distanciamento de 1,5 metros entre veraneantes, a proibição de desportos colectivos no areal, regras para toldos, colmos e barracas e uma sinalética sobre a ocupação da praia. Os utentes devem desinfectar as mãos regularmente. E é obrigatório fazerem-no na chegada à praia.

Águas residuais também não são um risco

Em 2008, um estudo publicado pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (National Library of Medicine) sobre a persistência dos coronavírus nas águas residuais concluiu que esta família de vírus “morre muito rapidamente” neste tipo de águas, com uma redução de 99,9% em dois a três dias. O mesmo acontece com o SARS-CoV, o vírus que causa a síndrome respiratória aguda grave (SARS) e que em 2002-2003 matou cerca de 650 pessoas na China.

Outro estudo, este de Abril de 2020, publicado no jornal académico Water Research afirma que a transmissão de covid-19 em ambientes aquáticos não foi comprovada até o momento, mas reforça que existem ainda poucas informações sobre a presença e sobrevivência deste tipo de vírus em “águas residuais, águas superficiais ou outros tipos de água”.

Também a Organização Mundial de Saúde revela, num documento partilhado em Março deste ano, que, embora a persistência do novo coronavírus em água potável “seja possível”, não há evidências de que este esteja presente em fontes de águas superficiais ou subterrâneas ou que seja transmissível através de águas contaminadas.

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