Número de infecções em Lisboa pode aumentar devido a testes a trabalhadores. Há mais 12 mortes e 195 casos confirmados

Neste momento há 11.590 infecções activas e já 19.869 pessoas foram dadas como recuperadas — mais 317 em apenas 24 horas.

Foto
Manuel Roberto

Portugal regista, nesta terça-feira, mais 12 mortes por covid-19 do que no dia anterior. Este número corresponde a uma taxa de crescimento de 0,84%, num total de 1436 mortes registadas desde Março. Foram identificados ainda mais 195 casos positivos de infecção, ou um aumento de 0,6%, num total de 32.895 casos positivos. Estes dados foram divulgados no boletim epidemiológico da Direcção-Geral da Saúde publicado nesta terça-feira.

Já 19.869 pessoas foram dadas como recuperadas, mais 317 em apenas 24 horas. Há 432 pessoas internadas (menos 39 do que no dia anterior), 58 das quais em unidades de cuidados intensivos (menos seis). Há, actualmente, 11.590 casos activos. Este número é encontrado depois de subtraído o número de mortes e de recuperados ao número de casos positivos.

A taxa de mortalidade global da covid-19 em Portugal é de 4,4%, mas sobe consideravelmente acima entre os doentes com mais de 70 anos: é de 17,3%, de acordo com o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, que falou durante a conferência de imprensa diária. Para a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, é normal que este dado varie, mas garantiu que está dentro do que é “esperado” e que é “normal” para um país com as características de Portugal.

Depois de não ter registado qualquer novo caso de infecção na segunda-feira, a região norte regista 29 novos casos, fazendo aumentar o total acumulado para 16.789. Esta é a região portuguesa mais afectada pela pandemia nos últimos três meses.

A maioria dos novos casos foi, no entanto, identificado na região de Lisboa e Vale do Tejo: 158 apenas nas últimas 24 horas. Esta região soma 11.493 casos positivos acumulados desde o início da pandemia, em Março. Há, nesta região “uma maior concentração de casos”, avaliou a directora-geral da Saúde, mas que “apesar de tudo está estabilizada”. 

A maioria dos novos casos na região de Lisboa ocorreram nos concelhos de Lisboa (com 38 novos casos) Amadora (com 29) e Loures (com 23). Em Sintra contam-se 182 novos casos, mas a DGS nota que este é o valor acumulado das notificações de quatro dias.

Apenas duas regiões em Portugal têm transmissão comunitária: Lisboa e Vale do Tejo e Norte. O Centro, Alentejo e Algarve têm apenas “pequenos focos”, de acordo com a directora-geral da Saúde, e os Açores e a Madeira declararam ter apenas “transmissão esporádica”. “A última actualização nacional confirma este mosaico que é o que também tem sido a nossa epidemia, uma assimetria regional que reflecte a dinâmica do vírus e também a densidade da população”, explicou Graça Freitas.

Trabalhadores de empresas na Grande Lisboa estão a ser testados

Não será de estranhar que os números continuem a aumentar nesta região. De acordo com o secretário de Estado da Saúde, foram colhidas cerca de 945 amostras provenientes de rastreios a empresas da zona da Grande Lisboa, e o seu processamento está já em curso. “Foram colhidas cerca de duas mil amostras desde sábado”.

“Seguimos a estratégia de identificar, testar e isolar muito rapidamente. O INEM tem um plano de testagem em curso em várias dezenas de empresas situadas na Grande Lisboa, a maioria na zona da Azambuja. Outras estão a decorrer durante o dia de hoje e as restantes com agendamento para os próximos dias. Prevê-se estender estes rastreios a outras empresas sob a orientação da autoridade de saúde até ao fim desta semana, altura em que faremos um ponto de situação”, referiu António Lacerda Sales, acrescentando que caberá depois ao INSA (Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge) fazer o processamento dessas amostras em articulação com outros hospitais da região.

O presidente do INEM, Luís Meira, presente na conferência desta terça-feira, diz que o processo em que esta entidade está envolvida visa garantir o máximo de testagem na Área Metropolitana de Lisboa e na região da Azambuja, “sobretudo em empresas de construção civil, a trabalhadores destas empresas, e a trabalhadores de empresas de trabalho temporário”, avançou o responsável. Luís Meira diz que o objectivo é interferir o menos possível com as actividades das empresas.

Graça Freitas disse ainda que o objectivo é conter os novos surtos às suas zonas respectivas, evitar novas cadeias de transmissão e quebrar as já existentes, uma estratégia que rotulou como “muito agressiva” e que “espera” ter resultados dentro de dias.

“O número de casos não aumentou, apesar de estarmos a fazer testes e à procura activamente. Cerca de 4% destes testes feitos em locais específicos deram positivo, um número que nos tranquiliza. Já sabemos que atinge sobretudo a população jovem, adulta, trabalhadora e portanto não temos tido esse reflexo nem nos internamentos, nem nos internamentos intensivos, nem nos óbitos. E a situação não só está a ser muito bem acompanhada do ponto de vista epidemiológico, como do ponto de vista da actuação”, avançou a directora-geral da Saúde, lembrando, ainda, as "flutuações que o fim-de-semana” costuma ter nos números da epidemia.

O aumento de novos casos na região de Lisboa não está, no entanto, afastada: “Obviamente que aqui em Lisboa e Vale do Tejo também há o factor de testagem, se testamos mais pessoas encontramos mais pessoas positivas, e uma pessoa que não tem sintomas conta obviamente como um caso de infecção. Essa será uma das razões. Há alguns padrões que nos permitem ver focos de doença localizados em determinados contextos e há alguns casos dispersos em que a habitação é a forma como as pessoas se infectam”, descreveu a responsável, garantindo que o “plano de ataque” está implementado para conter possibilidade de mais casos.

“Golos não podem ser celebrados como antes”

Questionada novamente sobre o regresso do campeonato de futebol, que arranca já na quarta-feira, Graça Freitas voltou a sublinhar que será necessário que os adeptos cumpram as regras mesmo que, de acordo com a legislação em vigor, o limite de pessoas para ajuntamentos tenha sido alargado para 20 (em vez de dez).

Salvaguardando que a celebração dos golos costuma ser um momento de contacto físico entre adeptos, a directora-geral da Saúde aconselha a que isso não aconteça: “[Devem] tentar comemorar com distância na mesma, sendo exuberante mas longe dos outros. A menos que, há aqui uma excepção, (...) sejam coabitantes, e pessoas que vivem na mesma casa, ou que são familiares. Mas todos os outros devem manter o distanciamento”, sublinhou Graça Freitas, voltando a referir, tal como já nesta segunda-feira o tinha feito, que o regresso ao futebol “foi uma grande conquista” e que não podem existir comportamentos menos “prudentes”.

A directora-geral da Saúde abordou ainda a questão de vários estudos internacionais terem apontado para que o vírus esteja a perder força. “Somos muito cautelosos e vamos continuar a ser em relação aos muitos estudos que vão sendo publicados em diversos países. Já dissemos que a maior parte desses estudos é descritiva e observacional, descreve uma situação e não procura explicação causal. Vamos ter de esperar para ver mais estudos sobre o vírus e sobre as alterações genética do vírus”, disse Graça Freitas, fazendo ainda referência aos estudos que estão a ser conduzidos pelo INSA que se focam especificamente nesta questão. “Teremos de olhar para os estudos com cautela porque muitas vezes têm metodologias não tão robustas quanto gostaríamos”, disse a responsável.

Em todo o mundo há mais de 6,2 milhões de casos confirmados, morreram mais de 375 mil pessoas e quase 2,7 milhões conseguiram recuperar da doença. 

Sugerir correcção