Recomendações para regresso aos palcos preocupam profissionais da dança

Associação Rede considera que o documento que regulamenta o regresso aos palcos é omisso no caso específico dos profissionais da dança, uma prática que implica contacto físico muito próximo, e por isso envolve mais riscos para os artistas.

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Vera Mantero Nuno Ferreira Santos

A Rede - Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea considerou esta sexta-feira “preocupante” que as últimas orientações para a utilização dos equipamentos culturais, divulgadas pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), não façam referência às necessidades específicas destes profissionais.

A DGS publicou na quinta-feira um documento de orientações “para utilização de equipamentos culturais”, que coincide com regras já divulgadas pelos serviços do Ministério da Cultura, no quadro da aplicação do Plano de Desconfinamento, a partir de 1 de Junho.

“O documento é omisso no caso específico dos profissionais da dança, uma prática que implica contacto físico muito próximo, e por isso envolve mais riscos para os artistas”, sustentou Mariana Amorim, da direcção da Rede, contactada pela Lusa.

Para os espectáculos ao vivo, como peças de teatro, a DGS aconselha, porém, a que as cenas sejam adaptadas, “sempre que possível, de forma a minimizar o contacto físico entre os envolvidos”. “As cenas e os espectáculos realizados ao vivo (ex.: peças de teatro, orquestras) devem ser adaptadas, sempre que possível, de forma a minimizar o contacto físico entre os envolvidos”, lê-se no documento deste organismo.

“Será impossível aos bailarinos não se tocarem e até com distância há suor, respiração ofegante”, apontou Mariana Amorim, alertando que, para evitar o contacto físico, “seria preciso recriar todas as coreografias” concebidas antes da pandemia.

A dirigente da Rede chama também a atenção para os riscos acrescidos dos bailarinos que, apesar de poderem dançar, têm doenças crónicas e, por essa razão, deveriam ter a possibilidade de se protegerem, e não subir ao palco. “Toda a gente quer voltar, mas em segurança. Não havendo essa segurança, deveria haver uma liberdade de escolha. E se um bailarino contaminar toda uma equipa?”, questiona Mariana Amorim, propondo que os profissionais em situação de maior risco recebam apoios de emergência.

Para a Rede, “ainda não foi criado um fundo que responda a esta situação excepcional” criada pela pandemia de covid-19. “Agora há uma pressa de abertura para recuperar o que se perdeu, mas isso não é possível”, considera a dirigente.

Bailarinas e coreógrafas contactadas pela Lusa há uma semana, como Vera Mantero e Clara Andermatt, deram conta da vontade de voltar aos palcos, mas também dos receios dos profissionais da dança, pelo alto risco de contágio, devido às características desta arte.

De acordo com o programa de desconfinamento, as salas de cinema, teatro e outros espectáculos, assim como de espectáculos ao ar livre, podem reabrir a partir de 1 de Junho. Em todos os casos é obrigatório o uso de máscara, a higienização de mãos e disponibilização de materiais para que seja feita, distanciamento físico de dois metros, “com excepção dos locais de permanência” de público (plateias).